Casal português pedalou até Macau

O casal que em Setembro de 2010 rumou de Ovar a Macau em bicicleta já chegou ao destino e, após uma “emoção forte sobre a calçada portuguesa”, prepara o regresso com nervosismo pela crise de que ouve falar.

em declarações à agência lusa, rafael polónia conta que, depois de pedalados 17.520 quilómetros através de 22 países, a chegada ao largo do senado, na cidade de macau, foi uma sensação de alívio, missão cumprida e muita felicidade.

“tentámos encontrar, no meio de toda aquela confusão, a praça à qual nos havíamos proposto chegar e, quando descobrimos que era mesmo aquela, saímos das bicicletas, abraçámo-nos e, claro, a emoção foi forte, sobre a calçada portuguesa”, explica.

tanya ruivo acrescenta: “aquilo que nos parecia do outro lado do mundo, afinal, está ao acesso de todos. regressar e habituarmo-nos a ter uma vida normal outra vez, essa sim, vai ser uma grande aventura”.

os dois jovens deverão chegar ao aeroporto do porto a 13 de maio e daí seguem para as piscinas municipais de ovar, onde esperam muita gente a acompanhá-los nos últimos metros de pedaladas de um “passeio simbólico” até à câmara municipal.

admitindo ansiedade pelo regresso, dizem-se também curiosos e nervosos. “as notícias da crise suscitam-nos algum interesse, porque toda a gente nos fala da miséria total”, admitem os dois ciclistas. “mas vamos ver. somos positivos e continuaremos assim, que depressão é coisa para meninos”.

para trás ficam algumas recordações negativas dos 19 meses em viagem, como “a índia superpovoada e sem espaço para a privacidade e para o silêncio, a neve na suíça e na alemanha, e o calor no turquemenistão”.

entre as melhores memórias, por sua vez, rafael polónia destaca “a hospitalidade no médio oriente e no irão”, porque “as pessoas e a sua amizade são sempre a melhor experiência de qualquer viagem”. tanya ruivo acrescenta à lista “a passagem pela capadócia, na turquia, por angkor wat e pelo rio mekong, no camboja, e pela pamir highway, no tajiquistão”.

os viajantes retiram ainda satisfação de outro aspeto da sua experiência: “é giro ver a influência que tivemos noutras pessoas, tanto portuguesas como estrangeiras, que partiram em viagem depois de começarem a ler sobre a nossa e nos disseram isso mesmo”, conta rafael. “isso faz-nos sentir como se tivéssemos cumprido mesmo a nossa missão: a de sermos inspiração para os outros”.

o último “convertido” foi um colombiano de 22 anos que os ciclistas portugueses conheceram no camboja e, três dias depois, comprou uma bicicleta e partiu em viagem, encontrando-se já no tajiquistão.

“a coisa que mais muda na nossa vida depois disto é o nosso sentido das prioridades, o nosso entendimento do outro e do mundo, o nosso pensamento sobre o que tem mesmo valor”, afirma tanya ruivo. “as viagens não te mudam, mas ajudam a perceber, não te transformam, mas abrem-te os olhos para a realidade”.

“depois”, conclui a jovem, “tens é de saber lidar com isso e ser, ou não, mais tolerante, mais aberto, mais compreensivo”.

a forma como se vai agora processar o regresso ao quotidiano normal é que está por definir. “ainda não pensámos muito nisso. “queremos chegar, perceber como estão as coisas e depois atuar, porque não conseguimos ter noção da realidade a tantos quilómetros de distância, estando há mais de ano e meio fora de casa”, reconhecem.

tanya gostaria de continuar a trabalhar como atriz, rafael quer manter-se na produção de espetáculos, mas tentar também algo ligado ao turismo e à hotelaria. portanto “aceitam-se propostas”, brincam os dois.

outra hipótese a considerar é a edição do material que, ao longo da sua aventura de 19 meses, o casal partilhou com o público no site www.2numundo.com. “não sabemos quantos ‘posts’ publicamos durante a viagem, mas o meu pai diz que fez com eles cinco livros, com pelo menos 70 páginas”, conta rafael.

lusa / sol