‘Frente Nacional’ contra partido de Le Pen

A desistência dos socialistas permitirá uma derrota da Frente Nacional em duas regiões. E as fusões com listas à esquerda poderão acabar por dar a vitória ao PS.

‘Frente Nacional’ contra partido de Le Pen

O risco de uma onda azul escura – as cores da Frente Nacional (FN) – a ensombrar o mapa das regionais francesas parece afastado. Os socialistas recuaram nos círculos onde a esquerda tinha menos votos que a FN e os votos somados dos partidos à esquerda com os da formação de centro-direita de Nicolas Sarkozy parecem ter afastado o fantasma de uma vitória histórica da extrema-direita na segunda volta destas eleições.

A FN apareceu à frente em seis das 12 regiões continentais na primeira volta do escrutínio que se realizou no dia 6. A seguir ficaram Os Republicanos (OR) de Sarkozy, com quatro, e depois os socialistas, com duas.

Agora, as sondagens realizadas entre as duas votações dão como perdidas para o centro-direita as regiões por onde se candidatam Marine Le Pen, a Nord-Pas-de-Calais-Picardie, e a sua sobrinha, Marion Marechal Le Pen, a Provence-Alpes-Côte d’Azur. Era nestas que haviam obtido os melhores resultados.

Apesar das desistências do PS, nas eleições de domingo ainda há duas regiões com possibilidade de vitória da FN. Na Alsace-Champagne-Ardennes-Loraine, o candidato socialista – que apenas tinha conquistado 16% dos votos – desobedeceu às ordens vindas de Paris e manteve-se na corrida. Aqui, a FN também tinha ganho e, com republicanos e socialistas divididos, ainda há reais hipóteses de Florian Philippot, o presidente da Frente Nacional, acabar em primeiro. Os líderes do PS_ignoraram o seu candidato, que arrisca sanções, e apelaram ao voto nos seus adversários do OR, mas a reação do eleitorado será imprevisível. Segundo um estudo de opinião realizado pelo Le Figaro os simpatizantes de esquerda revelam mais facilidade em votar no seu adversário histórico para afastar a FN do poder, do que os militantes socialistas, que aparentam menor capacidade para ‘engolir o sapo’. Aliás, entre as estruturas locais não foi aceite de ânimo leve a decisão de desistir a favor do grande rival nacional.

Continuando no Noroeste do país, também em Bourgogne-Franche-Comté a extrema-direita pode sair beneficiada da divisão entre OR e PS. A_FN saiu da primeira ronda com avanço e os seus dois adversários, com valores idênticos, na casa dos 24%, empurraram um para o outro a obrigação de desistir. Nenhum o fez.

Nas restantes regiões, a surpresa pode vir dos socialistas, que se fundiram com os ecologistas e Frente de Esquerda em sete regiões e conquistaram reais possibilidades de ganhar. Um dos casos é a simbólica Île-de-France, a região de Paris, onde deverá ultrapassar confortavelmente os republicanos – que ganharam a primeira volta.

Na campanha para domingo Nicolas Sarkozy tenta conquistar votos perdidos para a sua direita. Culpa os socialistas pela subida da Frente Nacional: «Sempre que a esquerda está no poder há uma explosão do voto na FN», justificou à France Inter. E aproximou-se do discurso do partido à sua direita, com referências à emigração – «a França deve continuar acessível, mas não podemos acolher toda a gente» – ou à necessidade de haver controlo nas fronteiras – «a fronteira não é uma parede, mas é um filtro».

Com uma estratégia que não mobilizou todo o seu partido, a possibilidade de Sarkozy ser o candidato dos Republicanos nas presidenciais de 2017 também vai a votos no domingo.

teresa.oliveira@sol.pt