Recuso-me a passar de ano.

Começámos 2015 a abater a liberdade de expressão a sangue frio, a definir os limites do humor e a castigar com o fim de tudo quem se punha, e põe, a jeito. Fomos todos Charlie até todos os Charlies caírem convenientemente nas suas próprias inseguranças de divas ofendidas, um após outro que nem corruptos a…

E quanto mais para a frente o ano andou, mais para trás nós ficámos. Vemo-los agarrarem-se ao poder, ou a escalar para ele, com as mesmas ganas que um nepalês foge de um terramoto e um sírio da guerra, desnorteados como um coelho que dá à costa e só precisa de encontrar portas que se abram para um porto seguro.

E os atentados. Atentou-se dia sim, dia também. À moral e aos costumes, aos mais básicos direitos, à vida, com bombas em teatros em cidades pelo mundo, com metralhadoras na ponta dos dedos no mundo das redes sociais.

Vimos perfeitos desconhecidos e decepções de amigos saírem das suas tocas medíocres agitando sem pudor, nem tolerância ou inteligência, as suas bandeiras racistas, xenófobas e homofóbicas. Vimos o mundo tornar-se mais pequeno a cada dia que passou e vai passando ainda em 2015. Não que haja mais rotas de avião, mas sim porque o medo consegue fechar mentes e fronteiras mais rapidamente que a corrupção e incompetência fecham bancos em Portugal.
Mais passivos ou mais revoltados, em 2015 vimos e sentimos terrorismo salgado refugiado na tacanhez distraída dos reality shows e de portugalinhos em festa.

Não acredito que 2016 seja melhor, antes pelo contrário, mas quero muito que me contradigam.
Caso contrário, recuso-me a passar de ano.