Crime no Banif? Esquerda diz que Passos escondeu informação

“Um ato criminoso”, acusa Mariana Mortágua do BE. “Um verdadeiro crime económico”, ataca Jorge Pires do PCP. À esquerda não há dúvidas de que houve ilícitos na forma como foi gerido o dossiê Banif. Mas é isso mesmo que se vai tentar apurar numa comissão de inquérito parlamentar que deverá ser pedida por PS, PCP…

Crime no Banif? Esquerda diz que Passos escondeu informação

Depois de ser conhecida uma carta da Comissão Europeia à então ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, Mariana Mortágua não tem dúvidas de que os problemas do Banif foram ocultados pelo anterior Governo por motivos “eleitoralistas”.

A carta, escrita pela Comissária Europeia da Concorrência, revela que a resolução do Banif tinha vindo a ser adiada "para não colocar em causa a saída de Portugal do Programa de Assistência Económica e Financeira". Ou seja, o problema foi adiado para não pôr em causa a saída limpa do resgate.

Catarina Martins, líder do BE, já tinha falado esta carta no debate quinzenal com o primeiro-ministro António Costa, na semana passada, acusando Passos Coelho de “esconder informação” de forma “irresponsável”.

Agora, Mariana Mortágua considera mesmo que Passos Coelho e Paulo Portas cometeram um "crime contra os interesses do Estado e do país". E afirma ter medido “muito bem as palavras” antes de avançar com esta acusação.

"Enquanto o Governo de direita se preocupava em encenar a saída limpa, a real situação do Banif era ocultada", criticou a deputada bloquista.

Recorde-se que a venda do Banif ao banco Santander por de cerca 150 milhões de euros implica uma injeção de capital de 2.255 milhões de euros, a maior parte dos quais saídos dos cofres do Estado.

“Esta solução é de entre todas a que menos custos acarreta”, defendeu Ana Catarina Mendes, explicando que o valor que terá de ser suportado pelos contribuintes corresponde à “fatura da irresponsabilidade” do Governo de Passos e Portas.

A deputada do PS não poupa, de resto, nos ataques à “gestão que as autoridades fizeram deste dossiê nos últimos três anos”, considerando que a forma como Passos e Maria Luís se comportaram teve em vista apenas “objetivos meramente eleitorais”.

Carlos Costa debaixo de fogo

Na mesma linha do que tinha sido na semana passada a intervenção de Catarina Martins no Parlamento sobre o Banif, também Mortágua não poupou críticas ao Governador do Banco de Portugal.

"Carlos Costa não tem as mínimas condições para continuar na sua posição", conclui Mariana Mortágua.

“É evidente que o Banco de Portugal nestes anos, nos processos que conhecemos do BPN, do BPP, do BES e agora do Banif, esteve claramente à margem de uma regulação efetiva deixando passar situações inacreditáveis”, concorda o deputado comunista Jorge Pires.

Também a deputada socialista Ana Catarina Mendes defende que o caso revela a “necessidade imperiosa de rever o quadro de regulação do sistema financeiro”.

No debate quinzenal da semana passada, Costa já tinha admitido ser necessário alterar os poderes do Banco de Portugal para tornar mais eficaz a regulação, mas os comunistas acreditam que isso só por si não irá evitar outros casos como o do Banif.

Jorge Pires defende que a solução “não passa somente pelo reforço da regulação”, mas por medidas que levem o “Estado assumir o controlo efetivo do sistema bancário em Portugal”.

margarida.davim@sol.pt