João Proença: ‘acordo com PCP e BE melhorou o programa de Governo do PS’

Os seus ataques ao Governo da esquerda são passado. Elogia a “inflexão” de Costa, ao valorizar a concertação social, e diz que a UGT tem novas oportunidades que deve agarrar.

João Proença: ‘acordo com PCP e BE melhorou o programa de Governo do PS’

Esta semana o Governo decidiu aumentar salários e prestações sociais. São medidas positivas?

As medidas são claramente positivas. Temos que ver até que ponto correspondem aos compromissos eleitorais. Dada a situação financeira, o Governo está com alguma dificuldade em responder com a rapidez que se esperava. Aliás, o programa do Governo, após o acordo com o PCP e o BE, era até melhor do que o programa do PS, porque respondia mais rapidamente na política de rendimentos – salário mínimo e salário da função pública – e no IRS dos trabalhadores.

Mas o senhor foi um crítico do acordo do PS com a esquerda.

A minha crítica tinha a ver com a opção política que foi tomada pelo partido. Depois do apoio claramente maioritário que ela teve no PS, essas críticas estão ultrapassadas.

No início deste novo ciclo político manifestou preocupação com a falta de clima de concertação social. Há neste momento clima de concertação social?

O clima está mais favorável do que no início. O Governo inicialmente valorizou muito o diálogo político e desvalorizou o diálogo social, mas houve uma inflexão no interior do Executivo. Penso que o Governo decidiu equilibrar as dificuldades do diálogo político tendo a seu lado algum apoio na área social. Mas isso também aconteceu devido ao sucesso da primeira reunião da concertação social.

Como mede esse sucesso?

O Governo, que estaria à espera de grandes dificuldades no aumento do salário mínimo, encontrou um clima bastante favorável. Foi uma surpresa, mas o Governo também teve mérito, pelo seu espírito de abertura no salário mínimo e nos desafios que lançou aos parceiros noutras matérias fundamentais, ligadas ao desemprego, crescimento e competitividade. O Executivo mostrou que quer assinar um acordo estratégico de concertação, que será positivo para todas as partes, se for equilibrado. Abriu-se espaço na concertação social.

Sobre o diálogo político, ou a falta dele: durará muito a indisponibilidade do PSD para quaisquer entendimentos com este Governo?

Ainda está muito viva a tensão entre o PSD – que ganhou as eleições e não conseguiu ser governo – e o PS. O PSD ainda não conseguiu aceitar este novo quadro político. Esperemos que no futuro essa tensão possa diminuir, quando o Governo encetar diálogos sobre políticas concretas. Acho que há condições para se abrir alguma distensão no quadro político, ultrapassadas que estejam as eleições presidenciais. O diálogo entre os partidos é essencial para ultrapassar a crise económico-financeira do país.

A CGTP consegue agora o apoio do Governo para melhorar a vida dos trabalhadores. Que riscos isso traz para a sobrevivência da UGT?

Terá de perguntar à UGT. Eu acho que a CGTP não está disponível para celebrar acordos de concertação. Tem a mesma agenda do PCP e vai seguir uma via de reivindicação que levará a algumas cedências do Governo, mas não a um clima de entendimento com os empregadores. O futuro do país joga-se no diálogo da concertação e na negociação coletiva nas empresas e nos setores de atividade. E uma radicalização reivindicativa da CGTP será fortemente prejudicial para o país. Vejo a UGT a colocar-se na posição de sempre, como parceiro social e negociador na contratação coletiva, e este quadro atual pode abrir-lhe espaço. Agora, a UGT tem de demonstrar uma grande disponibilidade e capacidade negocial.

Acredita que o Banif possa comprometer o cumprimento do défice de 2015?

Se o que se passa no Banif fosse repercutido por inteiro no Orçamento de 2015 poderia pôr em causa o défice. Mas não o vai ser, porque vão encontrar-se soluções. Mas o Banif é uma preocupação para todos, não é só para o Governo. O Banif vai ter um custo para os portugueses.

É apoiante da candidatura presidencial de Maria de Belém, que esta semana juntou notáveis socialistas. Há mais PS com Belém do que com Nóvoa?

Essa é uma questão que não foi ainda aferida. Eu estive no jantar e vi muitas figuras que não esperava encontrar, gente de todas as sensibilidades no PS. A candidatura de Maria de Belém é a de uma socialista assumida, de uma mulher de centro-esquerda, é uma candidatura abrangente e julgo que terá mais votos, mas são as eleições que o irão determinar.