O que de facto aconteceu no Banif?

Administradores vão ter de provar que não contribuiram para a queda do banco. Gestores perderam ainda milhares de euros com o dinheiro que tinham em acções e obrigações. As perguntas e respostas.

1. Por que foram chumbados oito planos de reestruturação do Banif em Bruxelas?

Na verdade, foram seis e não oito (duas foram apenas cartas preliminares). Os planos eram da responsabilidade da administração do Banif e do acionista Estado/Ministério das Finanças. Nenhum plano chumba seis vezes, pois o primeiro chumbo vem acompanhado dos pontos que é preciso alterar ou completar e só chumba de novo quem não quer ver o plano aprovado. Era o caso de Maria Luís, que não queria avançar com a reestruturação (que implicava redução de funcionários e de balcões) em ano de eleições. E também não queria um processo de venda do Banif (como lhe terá sugerido Jorge Tomé a certa altura) que iria encavalitar-se e prejudicar o já atrasado processo de venda do Novo Banco.

2. Como aparece este ‘buraco’ de 2 mil a 3 mil milhões de euros?

Em Outubro, já depois das eleições, face à falta de solução para o Banif, Bruxelas comunicou que iria dar sequência à ‘investigação aprofundada’ (o que significa que já não avançará qualquer reestruturação e constitui um pré-aviso de liquidação do banco) até ao final do ano. O Governo de Passos está em gestão e informa disso o PS. Por força da ‘investigação aprofundada’ avança a venda forçada do Banif (obrigatoriamente a um banco e não a fundos ou outras instituições) e os ativos do banco são automaticamente desvalorizados em 66%. Daí que o ‘buraco’ real, que é de 700 a 800 milhões, passe a um ‘buraco contabilístico’ três vezes maior: de 2.250 milhões.

3. Quanto perdeu o Banif por causa da notícia alarmista da TVI?

Calcula-se que, nesta última semana, tenham sido levantados depósitos de 900 milhões por causa dessa corrida aos levantamentos, mas a TVI só contribuiu para o ‘buraco’ ser maior, pois o processo de liquidação por Bruxelas já estava em curso. E estavam inclusive em Portugal representantes do BCE que impunham a conclusão do processo até à meia-noite de domingo (ou o BCE cortava de imediato o financiamento).

4. Por que não decidiu o Banco de Portugal um processo de resolução igual ao do BES, com os custos a recaírem nos bancos e não no Orçamento e nos contribuintes?

Terá sido por imposição de António Costa e Mário Centeno junto de Carlos Costa. Ou por entenderem que o sistema financeiro e os outros bancos estão ainda muito fragilizados e não suportariam mais este custo. Ou por quererem culpabilizar Passos Coelho e o Governo anterior por este enorme ‘buraco’ e pelo descontrolo do défice em 2015. Com as regras europeias que vão entrar em vigor a 1 de janeiro os contribuintes nunca poderiam ser chamados a pagar a resolução.

5. Os clientes do Banif que têm obrigações subordinadas (256 milhões de euros, segundo revelou Jorge Tomé) podem ser equiparados aos lesados do BES?

Não. No BES também havia clientes com este tipo de obrigações de risco que perderam sem remissão o dinheiro dessas obrigações. Este tipo de aplicação não é comparável às dos lesados do BES, que investiram em papel comercial.

joao.madeira@sol.pt