El Niño: o menino do caos e da destruição

O El Niño, assim chamado em referência ao nascimento de Jesus, deu cabo do Natal de milhares de pessoas em todo o mundo. Causou quase 50 mortos no sul dos Estados Unidos, deslocou 200 mil pessoas na América do Sul, provocou cheias em Inglaterra. Mas aumentou a temperatura e tirou a neve do norte dos…

El Niño: o menino do caos e da destruição

Já antes do Natal tinha feito sérios estragos. Roubou a chuva ao sudoeste asiático e secou os céus na Indonésia, provocando uma seca que contribuiu seriamente para os fogos florestais que devastaram as florestas do país. Mas também trouxe vagas de calor à Índia, falta de água na África do Sul ou Etiópia.

Está a afetar as barreiras de coral. E as suas consequências levaram também a estragos nas colheitas de açúcar, arroz, café ou trigo. Umas pelo excesso de água, outras por carência.

Mas este El Niño tamanho Godzilla não ficou para trás com o fim de 2015. Os cientistas da NASA esperam que «muitos dos seus maiores impactos nos EUA apenas aconteçam no início de 2016», mesmo que o final do ano já tenha sido afetado por furacões, chuvas torrenciais e nevões nos Estados do Sul, onde devia estar bom tempo. E levou um ar de primavera e tirou a neve às montanhas a norte, onde o Natal devia ser branco.

1997 foi o ano em que este fenómeno foi mais forte. Até à data. O El Niño de 2015, que não dá sinal de abrandamento, já provocou «um caos climático pelo mundo», resumiu ainda a Nasa. E pode ser o pior de sempre.

O cientista desta agência espacial Josh Willis explica que «no início de 2015 as condições atmosféricas mudaram e o El Niño foi-se expandindo gradualmente pelo Pacífico central e oriental». Quanto à comparação com 1997 diz que «apesar do sinal dado pelo aumento da altura superficial do mar ser mais intenso e ter tido o seu pico em novembro daquele ano, a área onde o se vê a elevação das águas é maior em 2015». O que significa que «podemos ainda não ter chegado ao pico» do fenómeno.

O que é o El Niño?

O El Niño é um fenómeno meteorológico que acontece periodicamente. Tem a sua origem no Oceano Pacífico e o poder de alterar o clima do planeta.

Tudo começa no mar: nesta zona do Pacífico, perto do Equador, a água, muito aquecida pelo sol, é geralmente quente à superfície. Água quente significa evaporação, com a consequente maior formação de nuvens e pluviosidade.

Regra geral, os ventos alísios – que ocorrem regularmente nas regiões subtropicais – levam essas águas quentes em direção à Indonésia, elevando as águas nessas paragens e permitindo que as águas mais frias cheguem à superfície na costa americana. A água quente vai para oeste, no leste fica fria.

Mas há anos em que isso não acontece. Os ventos são mais fracos e sopram para o lado contrário, em direção à América do Sul. A água quente vai-se dirigindo e acumulando nesta zona do globo e depois espalha-se para norte e sul do continente americano, explica a Nasa. A consequência de águas tão quentes é a formação de nuvens e chuva que depois se dirigem para o interior do continente americano – nas zonas da América do Sul e Central – enquanto privam de chuva outras regiões tropicais. Neste ano este ar quente que vem do Pacífico chegou até ao Polo Norte, com o indesejável aumento da temperatura das suas águas.

Outra consequência, que também faz com que tenha efeitos em todo o planeta é que as águas quentes tornam os ventos mais fracos, e com eles a água fria que está nas zonas mais baixas do oceano não surge à superfície. O resultado é um ciclo vicioso que alimenta a potência destruidora do El Niño.

Finalmente, porque é que de todos os nomes escolheram batizá-lo com este que tem ressonâncias tão positivas, ao contrário dos brutais estragos que costuma trazer? É El Niño porque foi assim que o chamaram pescadores que viam os peixes desaparecer ou morrer por causa do aquecimento das águas. Como em determinados anos o fenómeno coincide com Natal, deram-lhe o nome do Menino.

Mas não tem apenas consequências negativas. Zonas muito afetadas pela seca, na Califórnia ou no Brasil estão a ser beneficiadas pela chuva que tem caído, restabelecendo reservas perdidas.

No verão, o El Niño pode ser substituído pela La Niña, com consequências opostas para o clima. Durante a La Niña, ou Las Niñas, os ventos são mais fortes que o normal e as águas frias chegam ao Pacífico Equatorial, trazendo, lá está, menos humidade e menos chuva. O oposto do El Niño, portanto.

teresa.oliveira@sol.pt