A partir de janeiro
Marcelo, o Presidente
A acreditar nas sondagens, Marcelo Rebelo de Sousa só tem de se preocupar em saber se ganha ou não à primeira volta as próximas eleições presidenciais. E mesmo isso parece, pelo menos por agora, ao alcance do candidato do centro-direita que está apostado em fazer uma campanha o mais distanciada possível de PSD e CDS.
Haja ou não segunda volta – e desde que não aconteça «como em 1986», como espera Sampaio da Nóvoa, que recorda a inesperada vitória de Mário Soares sobre Freitas do Amaral depois de este ter ganho a primeira volta –, Marcelo deve instalar-se em Belém em março.
A partir desse dia, volta a poder ser possível dissolver a Assembleia da República. Mas é pouco provável que Marcelo vá por aí. Na campanha, tem dado sinais de que não quer criar uma crise política ao país. E só «em caso de grave crise» dissolverá o Parlamento.
Resta saber se chegará ao Palácio de Belém na altura em que o Orçamento do Estado para 2016 estará a ser debatido no Parlamento. Se assim for, acontecerá aquilo que o candidato presidencial já disse preferir evitar. «Espero que o Orçamento esteja aprovado e tenha entrado em vigor no momento da posse do novo Presidente, que é no dia 9 de março», disse Marcelo no final de novembro.
Depois de ontem se saber que Mário Centeno adiou para meados de janeiro a entrega do Orçamento a Bruxelas, passou a ser mais provável que o próximo Presidente chegue a Belém sem o documento aprovado na Assembleia da República.
Até abril
A afirmação de Passos
Com as eleições diretas do PSD marcadas para 5 de março e o Congresso para os dias 1, 2 e 3 de abril, era de esperar que se discutisse a liderança do partido. Mas Passos Coelho é, para já, o único candidato a líder e tudo indica que se mantenha de pedra e cal.
Ganhou as eleições – mesmo que isso não tenha chegado para ficar com o poder – e está num ciclo político que ninguém sabe ao certo quanto pode durar, porque é difícil prever a resistência dos acordos que suportam o Governo PS. A somar a isso, tem resiliência quanto baste – como provou no episódio do «irrevogável» – e as bases do partido com ele.
Há quem admita que Rui Rio pode tentar marcar o Congresso com um discurso, mas são mais os que acham que o momento será de unidade em torno de Passos.
Até lá, será altura para os sociais-democratas estarem atentos às movimentações para a mudança de liderança no antigo parceiro de coligação. E para ir fazendo uma oposição dura, mas responsável, como já avisou Passos Coelho.
Depois de abril
CDS renova-se e esquerda negoceia
Ainda está por marcar o Congresso do CDS – a data será fixada no Conselho Nacional de 8 de janeiro –, mas deve ser em abril que os centristas reúnem para escolher o sucessor de Paulo Portas.
Assunção Cristas é, para já, a candidata que parece mais disponível para entrar na disputa, mas não deverá ficar sozinha na corrida à liderança.
Nuno Melo está a ser muito pressionado para avançar e Pedro Mota Soares e Telmo Correia são nomes de que ainda se fala, na perspetiva de avançarem contra Cristas, numa altura em que João Almeida foi o único a pôr-se de fora.
Seja quem for o líder, o CDS deve tentar demarcar-se do PSD – ainda que com alguma coordenação –, fazendo uma oposição mais aguerrida, como se viu no Orçamento Retificativo.
Abril promete ser, de resto, outro mês quente, com a entrega do Programa de Estabilidade em Bruxelas. PS, BE, PCP e PEV vão ter de se entender sobre o documento que traçará as linhas orçamentais até 2019.
No rescaldo dessa negociação, Costa terá o Congresso do PS em junho. Sérgio Sousa Pinto e Francisco Assis têm sido vozes críticas contra os acordos à esquerda, resta saber se vão voltar à carga no Congresso.
Até outubro
A ‘geringonça’ resiste?
A preparação do Orçamento do Estado para 2017 é vista como o grande teste à resistência dos acordos que suportam o Governo de Costa.
Com as eleições autárquicas marcadas para 2017 e dada a rivalidade entre PS e PCP em alguns concelhos, será ainda mais difícil conseguir a sintonia necessária para que os comunistas viabilizem o Orçamento.
À direita, conta-se com instabilidade política, mas também se teme o poder negocial de António Costa, que já deu várias provas de ser exímio em conseguir acordos que pareciam impossíveis. Resta saber se o fará em outubro. Se o fizer, irá certamente desestabilizar a direita, que está à espera de ver expirar o prazo de validade do Governo a que Portas chamou a «geringonça».
Em novembro
BE em Congresso
Catarina Martins afirmou-se como ninguém esperava em 2015. Quando já se vaticinava o fim do BE, Catarina conseguiu um resultado surpreendente, fazendo do seu o terceiro maior grupo parlamentar.
Os bloquistas têm agora 19 deputados e uma voz ativa nas políticas do Governo, já que são parte das forças que o sustentam. Mais: Catarina Martins e Mariana Mortágua – que se destaca cada vez mais – têm peso político e uma imagem pública forte, que favorecem e muito o BE.
Em novembro, os bloquistas reúnem-se em Congresso, mas não é expectável que haja mudanças numa direção que conseguiu tão bons resultados.
Em dezembro
O PCP muda de líder?
Jerónimo de Sousa disse ao jornal i que ainda está «para as curvas», num sinal de que poderia continuar à frente no PCP. Mas há sinais contrários que mostram que os comunistas podem estar a preparar-se para mudar de secretário-geral.
Um desses sinais foi a escolha de Domingos Abrantes para o Conselho de Estado. Até agora, tinham sido sempre os secretários-gerais do partido – Álvaro Cunhal e depois Carlos Carvalhas – a sentarem-se no órgão consultivo do Presidente da República em representação do PCP. O facto de, desta vez, a escolha não ter recaído sobre Jerónimo fez especular sobre a sua continuidade na liderança. Outro dado que foi lido como um possível sinal foi a escolha de Edgar Silva como candidato presidencial.
O PCP tem vindo a renovar-se e tem hoje um conjunto de quadros jovens com projeção. O líder parlamentar João Oliveira ou o eurodeputado João Ferreira são apenas dois exemplos de comunistas de uma nova geração que têm vindo a afirmar-se.