“Tenho uma dívida em relação ao PS”, diz Guterres

António Guterres reconhece que deixou “desiludidos” muitos socialistas por ter decidido não entrar na corrida para Belém, mas explica que essa não era a sua “vocação”. E, ao contrário da expectativa que se gerou, recusa dizer se apoia Maria de Belém nas presidenciais.

“Tenho uma dívida em relação ao PS”, diz Guterres

“O Presidente da República deve ser um árbitro e eu gosto é de jogar à bola”, disse Guterres, na Grande Entrevista Vítor Gonçalves, esta terça-feira na RTP3.

Acabado o mandato no ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e em plena pré-campanha para as presidenciais, o socialista admite que desiludiu quem via em si o candidato mais forte para suceder a Cavaco Silva.

“Tenho uma dívida em relação ao PS. Tenho consciência de que desiludi muitos”, confessou, defendendo que “na vida cada um deve fazer aquilo para que tem vocação” e que se vê como um homem de ação. “Eu gosto de ação, gosto do terreno”, disse, explicando que a visão que tem da Presidência é “o oposto disso”.

 

Guterres não apoia Maria de Belém

Antes da entrevista foi-se especulando sobre se Guterres aproveitaria para expressar o seu apoio a Maria de Belém, tendo mesmo o Diário Económico chegado a garantir que o faria.

Cerca de uma hora antes, Manuel Alegre, em entrevista à TVI, tinha deixado em aberto essa hipótese, recordando que o ex-primeiro-ministro e a sua ex-ministra da Saúde são “grandes amigos”, apesar de não dar como certo que António Guterres deixasse expresso esse apoio.

Guterres acabou por desiludir os apoiantes de Maria de Belém Roseira que contavam com essa declaração, explicando que vai manter “o recato” em relação ao tema, pelo menos até que o PS decida formalmente apoiar um dos candidatos às eleições de 24 de janeiro.

“Não tenho qualquer intenção de apoiar nenhum candidato antes de o meu partido se pronunciar”, esclareceu.

 

‘Ainda é cedo’ para falar sobre a ONU

Em relação à possibilidade de se candidatar ao cargo de secretário-geral da ONU – que estará vago no final de 2016 – António Guterres não é taxativo.

Ficando claro o entusiasmo com que esteve ao longo dos últimos dez anos no ACNUR – como repetiu ao longo da entrevista – e afastando a ideia de voltar à política nacional, sobre a possibilidade de suceder a Ban Ki Moon diz apenas que “é muito cedo” para falar sobre isso.

Certo é que nos meios diplomáticos é dado como mais provável que a escolha recaia sobre uma mulher, preferencialmente do Leste da Europa. Irina Bokova, antiga ministra dos Negócios Estrangeiros da Bulgária e atual diretora-geral do Fundo da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) é dada como a mais provável próxima secretária-geral da ONU, sobretudo depois de Ban Ki Moon ter deixado claro que gostaria de ver uma mulher no lugar.

Ainda assim, António Guterres parece não ter deixado ainda de parte essa hipótese. Para já quer, contudo, “aproveitar a família” e ponderar as várias possibilidades depois de ter estado dez anos no ACNUR.

margarida.davim@sol.pt