Wendell Lira. A história do “garoto” que quase desistiu do futebol

Messi pega na bola, finta quatro jogadores do Athletic de Bilbau e marca um golo de génio (foi a  a 30 de maio de 2015). Alguém aqui faz melhor? Espere aí, Florenzi decide, quatro meses depois, puxar o pé atrás encostado à direita e, do meio-campo, fuzila a baliza do guarda-redes, e logo do Barcelona,…

 Quase no Milan Conhecer a história do jogador que passou despercebido pelos holofotes na gala da FIFA da passada segunda-feira em Zurique é perceber que a ambição e a realidade por vezes zangam-se uma com a outra. Começou nas equipas de formação do Goiás, demonstrando já talento aos 16 anos em 2006 no campeonato estatal. Chegou mesmo a jogar lado a lado com Alexandre Pato na seleção brasileira sub-20, e um ano depois, em oito jogos, marcou sete golos.

Nesse ano, o primeiro e único colosso a surgir na sua vida, o Milan, faria uma proposta pelo jogador, mas que Lira viu fugir. “Eu entendi a decisão do Goiás, tinha acabado de subir ao profissional e estava louco para jogar de qualquer jeito”, disse à Globo. Seria Pato a ser o escolhido pelos italianos tempos mais tarde. E nas temporadas seguintes, lesões musculares afetaram este David. Duas no joelho rompendo os ligamentos, e outra, em 2013, com uma fractura no ombro, durante a semifinal do Campeonato Goiano. O futebol dizia-lhe que “não”, e quase venceu.
 
De garçon ao Puskas Nos anos seguintes, entre ser emprestado e jogar mais uns minutos, passou por clubes do estado de Goiás sem nunca vingar, com pouca expressão nacional e resolveu pendurar as botas para ajudar a família e juntar uns reais que fizessem de Wendell o melhor pai possível e um marido ideal. De moço dos recados a garçon, chegou à lanchonete no salão de festas do prédio da mãe até receber o telefonema do Goianésia, uma das casas que já o conhecia (para receber 682 euros por mês).

E depois? Depois “de um lance praticamente perdido saiu o golo mais bonito do mundo, nunca tinha visto nada igual”, como conta ao i o director desportivo do clube Fabricio Leopoldo, destacando a  dupla que Lira fez com Nonato, o veterano brasileiro que lhe passou a bola para o golaço acrobático. Com um bom trabalho de pré-época, o resultado mais surpreendente chegaria nessa partida que o Goianésia venceria por 2-1, e quando Fabricio perceberia que Lira estava nos três melhores golos, “caiu a ficha”. “Sempre foi um atleta muito dedicado, focado, um exemplo dentro e fora do campo, e muito religioso, e agora, daqui por 100 anos, estaremos na história”.

Acabaria por sair do clube e ser dispensado da série C do Brasileirão, pelo Tombense no verão. “Estou desempregado, treino sozinho e mantenho-me atento para o ano que vem, espero que esse golo me ajude” disse Wendell pouco tempo depois de saber da nomeação.

No dia 11 de Janeiro de 2016, a redenção. O Puskas caiu-lhe nas mãos, a mãe chorou de joelhos na lanchonete ao ver o filho receber a distinção – imagens desse momento circulam nos jornais brasileiros -, com um empurrão dos irmãos na Internet, e com um fato oferecido. “Foi uma honra oferecer-lhe com este fato, é um rapaz inspirador, pai de família, conhecemo-lo depois de uma entrevista que deu onde disse que não tinha nada adequado para levar à gala”, disse ao João Paulo Rangel, um dos donos da loja da região goianense, a Império Trajes – Masculinos, que fez a oferta ao jogador.

Lira voltou ontem para a sua cidade, onde terá uma estátua e selos com a sua cara nos próximos tempos, como garantiu o prefeito Jalles Fountoura de Siqueira. Começa o ano na Série B pelo Vila Nova, a fazer aquilo que mais gosta, jogar futebol.

Este David já não vai para novo, e agora, ao lado da mulher e da filha, vai procurar derrotar outros tantos Golias. Mas o Puskas já ninguém lho tira.