Vanessa consternada com a nega de Nuno Melo

A Vanessa ficou desalentada com a desistência de Nuno Melo à corrida para a liderança do CDS. Não ficou convencida com “as circunstâncias” que Melo apresentou. No deserto em que tudo isto se tornou, Nuno Melo, diz a Vanessa, era uma esperança.

Nuno Melo não avança. Até queria avançar. Mas há “as circunstâncias”. Uma delas, primordial: não é mulher. Um homem presidente do CDS corria o risco de ser demasiado parecido com Portas, que também é homem. É claro que Assunção Cristas está mais bem colocada para não ser homem, logo predestinada a fazer uma ruptura com a liderança de Portas. Nuno Melo não é mulher e a Vanessa também não queria que ele fosse.

– O que é que se passou no CDS, ao fim e ao cabo?, perguntou-me a Vanessa na quinta-feira ao fim da tarde. É claro que ela se tinha borrifado para a conferência de imprensa de Nuno Melo porque estava nos saldos. É verdade: o governo tem aumentado a confiança dos consumidores, pelo menos daqueles que são meus amigos.

– E o giraço avança ou não?

– Não.

– Fogo, isto é o deserto.

A Vanessa tinha alguma esperança em Nuno Melo, não especificamente por causa do CDS, mas para criar alguma mais-valia na nossa paisagem visual. Os americanos ligam a televisão e sai-lhes o Obama, os italianos têm o Matteo Renzi mas, quanto a nós, já houve tempos mais felizes em política. O Santana Lopes ficou muito bem na capa da revista Cristina, mas não é a mesma coisa. É pelo menos isto que pensa a Vanessa.

– Fogo, estamos todos velhos, eu, tu, o Passos e o Costa, que além de velho está gordo.

– Não sejas tão negativista, pedi eu, que acho que ela devia ser mais moderada, ver o lado bom das coisas, praticar mindfulness.

– Não sou nada negativista! Isto é mesmo  um deserto. Se ao menos o Nuno Melo tivesse avançado. Enfim, há o Pedro Nuno Santos. Tem cara de bruto, mas é giro. E há aquele ministro da Educação novinho que não me lembro como se chama. Esse parece feio mas é giro. Mas a minha esperança ia toda para o Nuno Melo! Agora começa a haver bastantes mulheres na política, o que não há é gajos giros na política! E isto é muito chato!

– Acho que ainda há um ou outro. Deixa-me pensar. Acendi um SG Filtro, um dos melhores cigarros do mundo no fim do século XX. Só comprei um maço porque vão acabar com ele e por estes dias contorço-me de falsa nostalgia: na verdade não fumo SG Filtro desde 1993 e só senti falta do SG Filtro quando percebi que ia acabar. É um fenómeno habitual do ser humano: sentir falta das coisas que não lhe fazem falta nenhuma apenas e exclusivamente no momento em que conclui que nunca mais as poderá voltar a ter. Este é o meu drama com o fim do SG Filtro. Eu já não o fumava, mas gostava de saber que ele estava ali na tabacaria, como o Alves do Álvaro de Campos. Há qualquer coisa em comum entre as marcas de tabaco e todos os Alves das tabacarias: só fazem falta depois de mortos.

– Dá-me lá um SG Filtro.

Quando começou a fumar, a Vanessa também começou pelo “Filtro”. Ficámos as duas a fumar a nostalgia durante cinco minutos. E depois ela insistiu:

– Não me consegues encontrar um gajo da política que seja tão giro quanto o Nuno Melo!

– Eu perdi-me nos pensamentos. Deixei de me concentrar nos gajos da política e comecei a pensar na falta que não me faz o SG Filtro.

A Vanessa abanou a cabeça.

– Ao contrário do SG Filtro, o Nuno Melo faz-me falta. Para já, um homem do Minho faz falta em qualquer partido. E depois, ao contrário do SG Filtro e de quase toda a gente, o Melo não envelheceu. Eu acho que ele ainda está aí para as curvas. É novinho e fica bem na televisão. E desde quando agora ser homem é uma circunstância negativa???? Não percebo essa desculpa da treta. Acho que o CDS sem charme corre sérios riscos.