Espanha: apesar do chumbo, Sánchez insiste em ser primeiro-ministro

A história já estava escrita, mas Pedro Sánchez, o líder dos socialistas espanhóis, não desistiu de ter a sua votação de investidura. Como previsto, não conseguiu alcançar uma maioria absoluta.

Apenas reuniu 130 votos a favor da sua nomeação para primeiro-ministro, 219 dos deputados votaram contra e houve uma abstenção. Durante o debate, a Sánchez coube a tarefa de pressionar à esquerda, o Podemos, enquanto que o seu parceiro de coligação, Albert Rivera, do Ciudadanos, ‘bateu’ em Rajoy.

Os interpelados ficaram indiferentes e aproveitaram a oportunidade para “malhar” no entendimento entre os dois partidos.

Mariano Rajoy fez um discurso de campanha eleitoral, para dentro, reforçando a sua liderança que ficou abalada com a frágil vitória de 20 de dezembro. E foi brutal para Sánchez e os socialistas. “Vou dizer isto de tal forma que até vocês percebem”, atirou para a bancada adversária, considerando que o líder do PSOE é um “bluff” e uma “ameaça para Espanha”. E gozou-o com a “geringonça” de Lisboa. “Descobriu em Portugal a fórmula milagrosa para desalojar o Partido Popular. Reconheça que o chamariz o deslumbrou como uma miragem. Suponho que tenha dito para si mesmo: se os outros perdedores conseguiram, porque não eu?”. A bancada do PP rejubilou.

Sánchez foi obrigado a subir o nível do ataque e sibilinamente “jurou” que nunca dirá que “o PP é um partido corrupto”. E voltou a acusar o primeiro-ministro em exercício de ser um “tampão para a regeneração do PP”.

O tom de Pablo Iglésias, do Podemos, foi igualmente de comício eleitoral. Chamou “laranja mecânica” ao Ciudadanos e disse “que esperava outra coisa de um socialista”. E várias vezes apelou a um entendimento com o PSOE, posterior a esta discussão – tática que só o pode beneficiar em novas eleições, passando a culpa de um inevitável desaire para os socialistas, que não se podem entender com o Podemos por causa do homem a quem Iglésias beijou na boca durante o debate: Xavier Domènech, o dirigente do En Comú Podem que exige um referendo sobre a independência da Catalunha.

A segunda parte da investidura terá lugar amanhã a partir das 18h30, à procura de uma maioria simples. É muito pouco provável que Sánchez desista de voltar a ouvir a maioria dos deputados a dizerem que não o querem para primeiro-ministro. Mais difícil ainda será começar o fim de semana com uma boa notícia.