“Para o PSD não é uma questão” o emprego de Maria Luís

Quase 24 horas depois de se ter sabido que Maria Luís Albuquerque foi contratada por uma empresa que compra e gere dívidas, o PSD foi obrigado a reagir. José Matos Correia acabou por vir falar aos jornalistas no Parlamento para defender a ex-ministra das Finanças, quebrando o silêncio sobre o caso à direita.

“Para o PSD não é uma questão” o emprego de Maria Luís

“Esta contratação nada belisca a legislação portuguesa. Não há nenhuma incompatibilidade que pudesse obstar à aceitação do convite e ao exercício destas funções”, declarou Matos Correia, que vê nas críticas da esquerda uma “tentativa baixa de aproveitamento político que não tem nenhum sentido” e não entende a iniciativa do BE de vir agora apresentar uma alteração ao regime de incompatibilidades que aumenta de três para seis anos o período de nojo para ex-titulares de cargos políticos assumirem funções em sectores privados que tutelaram e alarga as empresas abrangidas pelo impedimento previsto na lei.

O vice-presidente do PSD veio fazer a defesa de Maria Luís, lembrando o que a própria ontem disse em comunicado enviado às redacções, segundo o qual não teve qualquer relação com a empresa Arrow Global.

“Como ministra das Finanças, como a própria já disse, não teve nenhuma relação com esta empresa, afirmou Matos Correia, que foi confrontado com as relações entre a Arrow Global e o Banif, numa altura em que Maria Luís Albuquerque era a representante do Estado que então detinha 60% do banco do Funchal.

“Eu percebo que o PS, que ficou conhecido por dar indicações à CGD sobre créditos que devia ou não dar, tenha pesos na consciência. Mas isso não significa que os governos sejam todos como os governos socialistas. Nunca neste governo houve intervenção da ministra das Finanças na atribuição de crédito ou perdão da dívida, por isso é totalmente falso as acusações que fazem a Albuquerque”, atacou.

“Nós não nos imiscuímos nas empresas nas quais o Estado é accionista”, defendeu o deputado do PSD, explicando que o Governo de Passos Coelho “não teve qualquer intervenção no processo” que levou a Whitestar Asset Solutions – empresa que viria a ser adquirida pela Arrow Global –  comprar ao Banif cerca de 300 milhões de crédito malparado por 40 milhões de euros em 2014, quando Maria Luís era titular da pasta das Finanças.

Recorde-se que a Whitestar passou para as mãos da Arrow em 2015 e que agora a Carval – também do universo Arrow Global – está a disputar com outras empresas do grupo a compra de créditos em risco e imóveis no valor de 1.500 milhões à sociedade Oitante, que reúne os ativos tóxicos do Banif que ficaram fora do negócio de compra feito pelo Santander, sendo que o Banif entretanto contratou a Whitestar para avaliar esse ativos que agora a Carval tenta adquirir.

Apesar de tudo isto, Matos Correia está convencido de que não só não há qualquer incompatibilidade no novo cargo que será assumido por Maria Luís Albuquerque como o facto de ela se manter como deputada na bancada social-democrata não trará qualquer problema político ao PSD.

“Para o PSD isso não é uma questão”, assegura o membro da direcção de Passos, frisando que o cargo é “perfeitamente compatível” com as funções passadas e actuais de Maria Luís, “até porque é não executivo”.

“[Maria Luís Albuquerque] exerceu um direito. Nunca o PSD se sentirá prejudicado por um deputado exercer um direito”, sublinhou Matos Correia