Portas inspirou-se com a saída da liderança do CDS

Dou de repente com Paulo Portas inspirado depois de anunciar a saída da liderança do CDS – e parecendo distanciado do Congresso do Partido que decorre este fim-de-semana, e em que a sucessora é uma neófita por si escolhida, sem qualquer percurso partidário notável (será que afinal não é preciso esse percurso?). 

Há dias, comentando o discurso de posse de Marcelo Rebelo de Sousa que na Assembleia da República suscitara apenas o entusiasmo dos deputados do PS (e não mais do que a reverência formal dos da ex-coligação PSD-CDS), sustentou achar que o texto estava literariamente bem escrito. Parecia uma das críticas mordazes do próprio Marcelo, normalmente indiferente à qualidade literária dos seus textos (de resto usualmente ditados ao mesmo tempo, vários deles, a pessoas que os escrevem), mas sempre preocupado com a substância.

Depois, comentando as eleições americanas, terá declarado: «Hillary is my conservative candidate». O que até é normal. Hillary tem o consabido apoio dos mais ilustres empresários dos EUA, e a confiança mais o dinheiro para a campanha da Wall Street, o que é dizer tudo. E Trump, a quem um colunista do DN (Ferreira Fernandes) chamou oportunamente ‘trampa’, não se limita à bizarria grosseira direitista contra os imigrantes (como foi a família dele… mas isto já se sabe, cada um detesta sempre mais nos outros os próprios defeitos que vê em si); ele tem sido o grande zurzidor do liberalismo capitalista. Será mais por aqui que se pronuncia algum eleitorado americano que o apoia, sempre mais preocupado com questões económicas internas do que com outros filosofares políticos.

Claro que se Eça ainda cá estivesse, trataria mal Portas, como no seu tempo tratava mal os jornalistas muito ligados a partidos políticos, ou os autores de sound bites – essa resma de conselheiros Acácios. Até o termo geringonça acabou, contra a vontade do autor da boutade, mais simpático do que ridicularizador.