Empresas portuguesas esperam mudança em Moçambique

Há quatro anos, as notícias eram animadoras. As empresas portuguesas em Moçambique tinham duplicado, de acordo com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). O país era, naquela altura, o sétimo destino de investimento direto português no estrangeiro, em questão estavam 51,5 milhões de euros investidos apenas num semestre. Mais de…

Mas a situação parece estar a mudar rapidamente. O ano de 2015 ficou marcado por um forte arrefecimento do crescimento económico, com o Produto Interno Bruto de Moçambique a subir 6,1%, menos 1,1 pontos percentuais em relação a 2014, penalizado por uma forte desvalorização do metical face ao dólar, pela inflação e pela descida do investimento estrangeiro e da ajuda externa.

Moçambique contava  com projetos de gás de grande dimensão que estão agora atrasados. Mas não só. O ano passado ficou ainda marcado por um agravamento da crise política e militar em Moçambique, com confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

Mário explica que as maiores dificuldades tem sido para as empresas, que esperam recuperar capital rapidamente: “Há dificuldade em enviar dinheiro para Portugal e isso é um problema e um desincentivo”. No entanto, acrescenta que “as empresas mais estáveis e sólidas, que apresentam qualidade nos seus serviços, continuam a desenvolver a sua atividade com normalidade – e até com taxas de crescimento acentuadas – esperando que estas nuvens se dissipem”.

Para o português, a situação deste país é um aglutinado de fatores, que pesam na hora de escolher o país como possível destino de investimento. “A economia moçambicana vive tempos desafiantes fruto de um aumento do endividamento externo, da incerteza criada junto dos investidores devido ao não entendimento entre o partido do Governo e a Renamo e, por conjugação das duas razões apresentadas, a uma quebra acentuada das reservas de moeda estrangeira e depreciação do metical face ao euro ou ao dólar”.

A instabilidade política e o aumento da dívida do Estado levaram igualmente à retração do parte de investidores, “o que fez reduzir os investimentos diretos externos no país”. Mas é igualmente claro que existe uma expectativa de melhoria para o segundo semestre do ano.

Ao SOL, um taxista natural de Moçambique explica que “há três anos havia mais portugueses a usarem o serviço. Tínhamos mais clientes, sem dúvida”.

De acordo com dados de dezembro de 2015, há pelo menos 21 mil portugueses a viver em Moçambique. Além do arrefecimento do ambiente económico, há outras razões para que muitos portugueses estejam a abandonar este país: no último ano, cinco portugueses foram alvo de rapto. Segundo a Procuradoria-Geral da República, a justiça de Moçambique registou 42 processos-crime relativos a raptos em 2014.