Duelo de velhos amigos na corrida à Casa Branca

Ainda não há certezas matemáticas, mas depois de mais uma espécie de super terça-feira parece ser cada vez mais inevitável um duelo entre Donald Trump e Hillary Clinton na eleição presidencial norte-americana, agendada para novembro.

Os dois candidatos lideram as corridas dos respetivos partidos desde o início e viram alargadas as distâncias para os rivais após as votações em estados como a Florida, Ohio ou Missouri. A principal dúvida continua a residir no lado republicano, onde a resistência a Trump continua a alimentar a discussão em torno de uma Convenção Partidária onde nenhum dos candidatos terá a maioria de delegados que lhe garante automaticamente a vitória.

Mas como escrevia na quinta-feira Nate Silver – o especialista na complexa contabilidade do sistema eleitoral, que tem um blogue dedicado ao tema no New York Times –, «se não é óbvio que Trump conseguirá os 1.237 delegados, ainda menos óbvio é como qualquer outro conseguirá ser o nomeado republicano».

O polémico magnata continua a surpreender e a vitória na Florida foi essencial para eliminar uma das ameaças. Marco Rubio, a última esperança do aparelho republicano para evitar um candidato antissistema, não conseguiu sequer valer-se do seu próprio aparelho e ficou a 18,7% de Trump no estado que o elegeu para o Senado.

E anunciou a desistência com um bom retrato do clima que rodeia estas primárias: «Estamos a meio de uma tempestade política, de um tsunami que devíamos ter conseguido antecipar. As pessoas estão zangadas e muito frustradas».

Com Hillary a arrasar Bernie Sanders no campo democrata, a ironia que se retira dos resultados é que os eleitores que se dizem cansados do sistema acabarão por escolher para candidatos presidenciais duas figuras que há décadas fazem parte do dia-a-dia do país, um enquanto popstar do mundo empresarial e outra na própria vida política.

Tão vasta é a sua trajetória pública que em muitos casos chega a ser comum, como mostra a presença do casal Clinton no terceiro casamento de Trump, em 2005.

As generosas doações de Trump às campanhas eleitorais do casal Clinton já foram muito debatidas entre republicanos, mas para a campanha presidencial esperam-se muitas idas ao baú das recordações. Para se descobrirem coisas como a opinião de Trump sobre as primárias democratas de 2008, em que Hillary enfrentava Barack Obama: «Conheço Hillary e sei que seria uma grande presidente ou vice-presidente», escreveu o agora candidato no seu blogue no site trumpuniversity.com.

Um tom que mudou logo na pré-campanha, ao ponto de Hillary Clinton ter anunciado como resolução de ano novo «deixar Trump viver na sua própria realidade: não vou responder-lhe mais», disse numa entrevista em que foi questionada sobre a afirmação do magnata que a responsabilizava, enquanto ex-secretária de Estado, de ter «criado o Estado Islâmico» em conjunto com Barack Obama.

Como ninguém espera que o tom baixe até novembro, as equipas de assessores dos dois candidatos aconselharam as filhas destes – Chelsea Clinton e Ivana Trump – a suspenderem a amizade pública que nos últimos anos alimentou as revistas cor-de-rosa de Nova Iorque.