Portas e Cristas: descubra as diferenças

Assunção Cristas quer que os portugueses «olhem para esta novidade» que garante ser o CDS sob a sua liderança. A nova líder centrista diz ter «ambição máxima» para pôr o partido «a crescer». Mas, afinal, o que é que muda com Cristas à frente do CDS?

A imagem

Caiu finalmente o CDS-PP. Cristas usa só a sigla inicial do partido fundado por Freitas do Amaral. Mas a mudança maior em termos de imagem é ela própria. A nova líder centrista apresenta-se como mãe e mulher e opta por um estilo autobiográfico e intimista a anos-luz da atitude de Paulo Portas.

Isso foi visível no discurso com que se apresentou ao Congresso. Assunção falou da história pessoal de uma forma pouco habitual na política portuguesa. Houve quem dissesse que era «à americana», nos bastidores do congresso. Foi bem diferente do estilo acutilante e impessoal de Portas.

O estilo

Mas nem tudo muda no capítulo da imagem. O vídeo com se apresentou ao Congresso já no estatuto de líder fez lembrar a marca de Portas e uma das coisas em que o ex-líder centrista é mais forte. Num slide show, Cristas apareceu de bata, com chapéu de marinheira, em cima de um trator e a falar com as pessoas na rua. No discurso, prometeu proximidade. Depois do Paulinho das Feiras, pode haver uma Becas (como é conhecida pelos amigos) dos Mercados. Neste ponto, Assunção vai seguir as pisadas de Paulo Portas.

O discurso

«Crescer» e «ambição» foram as palavras mais ouvidas a Assunção Cristas no Congresso de Gondomar. Na sua equipa, explica-se que Assunção Cristas quer tirar ao CDS o rótulo de partido de nichos. O objetivo é deixar de ser o partido dos pensionistas, dos contribuintes e dos agricultores.

A partir de agora, Assunção quer «propostas que sejam respostas» aos problemas de todos os portugueses. E conta com o gabinete de estudos – para o qual convidou Diogo Feio e ao qual quer dar novo impulso – para ir apresentando novas ideias. «Ela quer marcar a agenda», explica uma fonte do seu staff.

O conteúdo

A orientação política de Assunção Cristas não vai, pelo menos para já, divergir muito da de Paulo Portas. No primeiro discurso como líder, apresentou quatro prioridades que estavam já todas na agenda do seu antecessor.

A reforma da Segurança Social, a reforma laboral para aproximar público e privado e o apoio às empresas já faziam parte da linha de Portas. E até o tema novo que trouxe, com a proposta de revisão do sistema de regulação bancária, foi Portas quem primeiro falou nela no discurso com que se despediu da liderança em Gondomar.

O posicionamento

Se há coisa em que Cristas vai começar a marcar a diferença é no afastamento em relação ao PSD. Na verdade, há mais de consequência de ciclo político do que de diferença em relação a Portas nesta matéria. Para crescer e tendo acabado o voto útil – como a própria decretou –, serão cada vez mais as vezes em Cristas que se vai demarcar de Passos. Mas há uma coisa que não muda: PSD e CDS continuam a ser «parceiros naturais» para chegar ao poder.

O método

Neste ponto há uma revolução em curso no CDS. Se Portas era adepto de noitadas de trabalho e conhecido pelo seu pouco amor à pontualidade, Cristas é de uma organização impressionante e faz questão que os horários de trabalho sejam compatíveis com a vida familiar de mãe de quatro filhos. Ao seu gabinete, Assunção já deu ordens para que a maior parte da agenda seja, sempre que possível, concluída até à hora do jantar.

margarida.davim@sol.pt