Pompeia sacode as cinzas

Acontece um pouco com toda a gente. Quando alguma coisa está facilmente ao nosso alcance, torna-se difícil apercebermo-nos do seu verdadeiro valor. Mas assim que deixamos de lhe ter acesso, apercebemo-nos de que nos faz uma falta tremenda. Foi mais ou menos isso que se passou com este livro. Vi-o em promoção e despertou-me o…

Felizmente acabei por o encontrar a um preço razoável e não voltei a cometer o mesmo erro. Agarrei a oportunidade e comecei de imediato a leitura.

Toda a gente sabe alguma coisa sobre o que se passou em Pompeia nos últimos dias de Agosto de 79 d.C. A 24, o Vesúvio entrou em erupção. Houve uma chuva de pedra-pomes, a terra tremeu e um rio de lava começou a escorrer da cratera. No dia seguinte, a rapidez com que a massa incandescente se deslocava apanhou desprevenidos (mas não de surpresa) alguns habitantes de Pompeia, cujos corpos ficaram moldados na lava para a posteridade.

No seu livro, Mary Beard, grande autoridade no estudo da Roma Antiga e uma celebridade no meio académico e editorial tanto no Reino Unido como nos EUA, vai muito além do relato esquemático que tracei, como de resto seria de esperar. O seu objetivo passa sobretudo por mostrar que cidade era esta e como viviam os seus habitantes. Para tal recorreu não apenas aos vestígios monumentais e às obras de arte (pinturas, mosaicos, esculturas, joias) que nos chegaram, mas também aos detalhes que mostram a vida a acontecer: o lixo nas ruas, os restos das refeições das pessoas simples, os diferentes tipo de comércio, a organização do trânsito. São quase diabólicos os métodos que arqueólogos e historiadores podem usar. Para reconstituir um jardim, por exemplo, analisaram as sementes e os pólenes recolhidos.

Mais: fizeram até moldes das cavidades das raízes para identificar as espécies. E assim, com um misto de pasmo e deslumbramento, vemos a cidade a reerguer-se e a sacudir as cinzas.