Não há dose certa para se ser James Franco

Imparável podia ser o seu nome do meio. Temo-lo visto em “11.22.63” mas há mais 11 novos projetos seus para ver este ano. Pelo menos. E fora o resto

Não há dose certa  para se ser James Franco

A página do IMDB de um ator poder dizer muito sobre ele, ainda mais quando falamos de James Franco, basta ir ver para perceber porquê. Por agora, temo-lo visto em “11.22.63” uma minissérie do Hulu em que é um professor que viaja no tempo com a encomenda de tentar evitar o assassínio de John F. Kennedy. Mas há outros 11 projetos para 2016 que ainda não vimos, mais três para o próximo ano e ainda outro já para o seguinte, isto por enquanto, fora o que ainda aí vem. 

A “Rolling Stone”, que escreve sobre que talvez seja este o homem mais produtivo da cultura pop, perguntou-lhe se se imaginava, como fazem outros, a dedicar-se por vários anos a apenas um projeto. “O problema em fazer um filme a cada dois ou três anos é: a) não se está a trabalhar assim tanto e eu adoro trabalhar; b) vai estar a colocar-se demasiada pressão nesse projeto.” James Franco disse também que rejeita “as hierarquias e as regras tácitas do tipo desse tipo de projetos que constroem uma grande carreira. Eu estava no ‘General Hospital’ [uma telenovela da ABC] na altura em que fui nomeado para um Óscar e percebi que há coisas que se conseguem numa novela que não se conseguem em mais lado nenhum.”

Uma grande carreira, dizia James Franco, talvez seja aquele tipo de carreira para a qual ele parecia estar lançado quando, depois de participar comédia “Freaks and Geeks”, onde contracenou com Seth Rogen, um nome que hoje é impossível dissociar do seu, fez de James Dean, contracenou com Robert De Niro, como seu filho, em “O Último Suspeito”, e depois interpretou Scott Smith, namorado de Harvey Milk (Sean Penn), em “Milk: A Voz da Igualdade”, um filme baseado em factos reais sobre o primeiro homossexual assumido a ser eleito na Califórnia, depois assassinado em 1978. Os dados estavam lançados, ele era uma das grandes promessas de Hollywood, e o que é que fez? Outras coisas, muitas coisas. Que não tinham necessariamente alguma coisa a ver com isso. 
Uma carreira cada vez mais vasta, que começou há menos de 20 anos, com a série “Asas nos Pés”, em 1997, e que conta já com 122 créditos. Isto como ator, porque no final dessa lista vêm os outros 47 como produtor, 33 como realizador e uma lista que continua por outras categorias, do argumento ao som. E ainda não escrevemos que James Franco não é só ator. James Franco dá aulas em duas universidades – onde também faz filmes com os alunos, veja-se por exemplo “The Mad Whale”, em que um médico numa instituição psiquiátrica no século XIX monta uma produção exclusivamente feminina de “Moby Dick”, utilizando os doentes como elenco. “Gostei do enquadramento da instituição porque assim não precisaríamos do orçamento que fazer o verdadeiro ‘Moby Dick’ ia exigir. E porque a ideia de ter os internados a entrar no filme abre uma série de possibilidades não convencionais para o elenco.” 

James Franco tem-se dedicado também aos estudos. E às artes, apesar de estes seus projetos nunca terem tido particular sucesso junto da crítica. É pensar por exemplo no vídeo que fez com close-ups de gente a urinar e a defecar. 

A homossexualidade, que tem explorado em vários dos seus projetos, é um dos temas que mais lhe interessam. Pense-se em “Interior” ou “Leather Bar”. “Quando eu estava a estudar em Nova Iorque, tive aulas de estudos críticos, e um dos meus temas favoritos era o cinema queer”, disse à mesma revista, explicando o seu fascínio por arte queer em geral. 

“Continua a haver nele um miúdo de 11 anos, a jogar ao faz-de-conta e a divertir-se. É um tipo excêntrico a quem pediram para ser lindo durante muito tempo para se apresentar como uma coisa que não era. Assim que convidámos o estranho para a festa, foi uma libertação para ele”, diz David Gordon Green, realizador de “Pineapple Express” (2008). E o próprio admitiu que esse terá sido o ponto de viragem da sua carreira. “Aquilo que eu estava a fazer antes não estava a resultar. Estava a fazer as pessoas com quem trabalhava miseráveis, estava a fazer-me sentir miserável. Epensei, ‘tenho de deixar-me levar. Se estas são pessoas em que eu confio, só me vou sentir melhor se me deixar levar pelo que elas estão a fazer. E foi aí que eu percebi que é assim que devo fazer tudo.”

E James Franco encontra sempre tempo para tudo, há os atores que quando estão na caracterização tiram selfies para partilhar no Instagram, dele diz-se que é normal aproveitar esses momentos para adiantar outros trabalhos, ao computador.

“Em teoria, ele é o ser humano mais desprezível”, disse uma vez o seu amigo Seth Rogen. “Mas assim que o conhecemos, é muito desconcertante. Quase se sente embaraçado por aquilo que assumimos que ele é. Acho que é por isso que as audiências gostam dele, porque ele é estranho e faz tudo de força tão fascinante e bizarra, mas depois no ecrã parece o nosso amigo estúpido com quem queremos sair, que vai baixar as calças para nos fazer rir.” E aquele sorriso, o que lhe vai na cabeça quando põe aquele sorriso, perguntou-lhe Gordon Green, ao que James Franco respondeu, nas palavras do realizador:“Às vezes estou a imaginar um fã a apontar um ventilador de ar quente para mim. Outras vezes imagino a explosão do escape de um autocarro.” O que quer que isso queira dizer.