Investigação revela esquema mundial de corrupção e fuga ao fisco

Uma fuga de informação sem precedentes levantou a cortina sobre negócios ilegais e estratégias de circulação de capitais com recurso a sociedades sedeadas em paraísos fiscais – as chamadas offshores. 

Vladimir Putin, o rei da Arábia Saudita, o primeiro-ministro islandês, o presidente ucraniano, o presidente da Argentina vários ex-líderes políticos mundiais. Pausa para respirar. Lionel Messi, o ator Jackie Chan, o músico russo Sergei Roldugin, muitos outros políticos (são 12 líderes mundiais, ao todo), homens de negócios, traficantes de droga e sociedades de advogados, filhos de primeiros-ministros, amigos de infância de poderosos chefes de Estado, sobrinhos de outros presidentes. A lista é extensa e os implicados naquele que será um dos maiores casos de corrupção mundiais constam dos muitos milhões de páginas de dados a que o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” teve acesso e que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) divulgou.

No olho do furação surge uma sociedade de advogados em particular – a Mossack Fonseca, uma discreta mas poderosa sociedade sedeada precisamente no Panamá e a que os poderosos recorriam para guardar o seu dinheiro. É a quarta maior sociedade mundial no que toca à criação de empresas fantasma, tendo os seus serviços sido requisitados por mais de 300 mil empresas em todo o mundo.

A utilização de paraísos fiscais para a ocultação de capitais não é ilegal, e parte da informação divulgada pelo CIJI limita-se a revelar as vias de circulação desse dinheiro e empresas. Mas o ponto fundamental da revelação dos dados a que o jornal alemão teve acesso através de uma fonte anónima são os esquemas de lavagem financeiro que resultaram num desvio de dois mil milhões de dólares através de empresas fantasma e bancos de todo mundo.

Ainda não é possível prever todas as implicações da informação agora divulgada através do consórcio e que pode ser consultada no site The Panama Papers – onde há dados sobre os esquemas de corrupção, os protagonistas e onde até se ensina a criar offshores e a abrir contas bancárias na Suíça

Sabe-se, por exemplo, que os esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro andam bastante perto do presidente russo Vladimir Putin e que a Mossack Fonseca foi citada pelos procuradores brasileiros que investigam o (também nada insignificante) esquema de corrupção Lava Jato, que se referiram à sociedade como uma “grande lavadora de dinheiro”.

Os mais de 11 milhões de dados a que o alemão “Süddeutsche Zeitung” teve acesso percorrem 40 anos de atividade nesta área dos offshores e foram conseguidos como resultado do trabalho de um ano de investigação, em que 25 jornalistas de vários países estudaram a sociedade Mossack Fonseca.