Lutas fraternas

Romeu e Jordan Lu­kaku concretizaram um sonho antigo na terça-feira, em Leiria. Decorria o minuto 59 do jogo que opôs as seleções de futebol de Portugal e Bélgica quando Jordan entrou em campo. Três minutos depois, o defesa esquerdo de 21 anos subiu pelo corredor e centrou a bola para dentro da área. Lá dentro,…

Lutas fraternas

Os irmãos, nascidos em Antuérpia com apenas 14 meses de diferença, correram um para outro, abraçando-se de forma desproporcionada para quem disputava um jogo particular e acabava apenas de reduzir a vantagem de Portugal no jogo. Além do sonho cumprido – «agora o sonho máximo é jogar com o meu irmão no mesmo clube», assumiu Romelu – estes dois filhos de congoleses (o pai chegou a representar a seleção do Zaire) acabavam de contribuir para recuperar um pouco a imagem das comunidades imigrantes do país.

Precisamente sete dias antes, outros dois irmãos de ascendência africana haviam chocado a Bélgica ao tornarem-se bombistas suicidas ao serviço do Estado Islâmico, matando 35 pessoas entre o aeroporto e uma estação de metro da capital. Khalid e Ibrahim Bakraoui juntavam-se assim a uma lista de irmãos que nos últimos anos espalharam o terror no mundo ocidental: os chechenosTamerlan e Dzhokhar Tsarnaev na maratona de Boston; Said e Cherif Kouachi no ataque ao Charlie Hebdo; Brahim e Salah Abdeslam na matança de novembro em Paris.

Uma tendência explicada por «inúmeros fatores, incluindo neurobiológicos, de personalidade, sociais ou culturais», explicou à Discovery o neuropsiquiatra Robert Hanlon, professor na faculdade de medicina de Feinberg, Chicago. «Normalmente há um irmão com personalidade mais forte, que se torna o líder. O outro é o seguidor influenciado, que quer agradar ao líder para ganhar o seu respeito», acrescenta o especialista.

‘Era um bom rapaz. E esperto’

Mas nem todas as famílias radicalizam em grupo. O outro bombista de Bruxelas, Najim Laachraoui, não levou consigo o irmão Mourad, um jovem que aos 21 anos representa a Bélgica no circuito mundial de Taekwondo.

«Não podemos escolher a família», lembrou Mourad quando os jornalistas o inundaram de questões mal se soube que o seu irmão mais velho era um dos responsáveis da barbárie de 22 de março. Garantindo que nenhum familiar detetou a radicalização de Najim antes de este viajar para a Síria em 2013, data em que os irmãos perderam contacto, Mourad recorda um «bom rapaz», com um «ar normal».

O rapaz que já conquistou cinco medalhas de ouro para a Bélgica em dois anos no circuito mundial lembra que «acima de tudo» o irmão era «muito inteligente», sustentando-se na licenciatura em electromecânica completada por Najim. Uma tese confirmada por antigos professores, que recordam o bombista como alguém «que nunca faltou a uma aula».

«É de loucos, tiveram os mesmos pais e infâncias semelhantes, um acaba muito bem e o outro muito mal», comentou o advogado de Najim na conferência de imprensa conjunta.