Frei Luís de Sousa conhece Rogério de Carvalho

Ainda há quem acredite no regresso de D. Sebastião. Já nem se fala da meteorologia inerente à sua chegada, pouco importa, mas o fantasma não nos larga. Na sua origem está Alcácer-Quibir, a mesma batalha que levou também o primeiro marido de D. Madalena de Vilhena (Teresa Gafeira): D. João de Portugal (Alberto Quaresma).

A questão é sensível, o tempo tende a curar tudo e a dizer-nos que para trás ninguém anda, que, como tantos outros cavaleiros portugueses, ninguém regressa de Alcácer-Quibir. Mas como Almeida Garrett nos parece querer dizer desde 1843 – data em que escreveu este texto – há passos que, quando a poeira já nem sequer se vislumbra, se revelam maiores que a perna.Frei Luís de Sousa, esse clássico intemporal do teatro e literatura nacional, volta a palco pela mão de Rogério de Carvalho. Fica até dia 30 de abril no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.

Quase a fazer 80 anos, seria de estranhar que Rogério de Carvalho dissesse que o texto, até aqui, não lhe dizia «absolutamente nada». Mas depois acrescenta: «Fugia dele, até porque se diz que não é muito favorável utilizar o texto de forma integral para construir um espetáculo, algo que não me interessava. Depois de ler o texto, de começar a trabalhar com os atores, de termos discutido várias situações, fomos, cada vez mais, caminhando na descoberta do mesmo. Foi a descoberta que mais me impressionou e hoje considero-o um dos grandes textos que me passaram pelas mãos».

Por certo que as interpretações de Teresa Gafeira e AntónioFonseca (que interpreta D. Manuel de Sousa Coutinho, segundo marido de D. Madalena de Vilhena) tiveram um peso relevante na balança. Regressar a Garrett é sempre uma boa prática para qualquer interveniente artístico – para qualquer cidadão interessado – ainda que Rogério de Carvalho admita que há cinco anos não teria conseguiria fazê-lo: «O texto é complexo, é uma espécie de labiríntico onde às vezes o sentido das frases não são claras, tem que se descodificar o que o Garrett quer e propõe».