Porta dos Fundos: como é difícil fazer humor hoje no Brasil

Foi tão inesperada como polémica a entrada da Porta dos Fundos no debate que divide o Brasil. A 2 de abril este grupo humorista publicou no seu canal do Youtube um episódio onde um polícia federal recebe informações de um deputado delator mas, deliberadamente, só aceita provas que acusem dirigentes Dilma ou Lula. 

O caldo estava entornado. O grupo chegou a perder milhares de assinantes no canal, mas no estado atual da sociedade brasileira o ódio cresce à mesma medida do amor e os números são hoje superiores ao que eram antes da polémica. «Vagabundo petista» passou a ser dos nomes mais simpáticos dirigidos pelos opositores do PT a Gregório Dudivier, o fundador do Porta dos Fundos, que já assumira previamente o seu alinhamento com os que acham que este processo de destituição não passa de um «golpe».

Em conversa com o SOL, Duvivier reconhece que são tempos difíceis para fazer humor no Brasil: «Quando você vê, o ódio acabou contaminando o seu humor. E é muito difícil você não ter ódio nos dias de hoje». Nem terá sido o caso, porque como fez questão de responder aos críticos, através do Facebook, o guião do episódio polémico «é do Fabio Porchat – que, diga-se de passagem, votou no Aécio» contra Dilma em 2014.

Humor à parte, Duvivier promete, tal como Dilma, levar a luta até ao fim: «O lado de cá, vestido de vermelho, não se vai calar», avisa ao lembrar que as manifestações transmitidas no mundo não são apenas em defesa do impeachment. O humorista defende que «na verdade, este impeachment é uma eleição indireta, como a gente tinha na ditadura, uma eleição feita pelo congresso». Algo que os defensores de Dilma não vão «tolerar», pois «as diretas no Brasil foram duramente conquistadas».

Para cúmulo, defende o ator, essas indiretas «vão tirar Dilma para assumir um Michel Temer ou um Eduardo Cunha, que são mil vezes mais corruptos e vão calar as investigações». Isto de um homem que diz não votar no PT, mas à sua esquerda. E que cita outro humorista para defender a sua tese. «O PT embora corrupto e, algumas vezes, com comportamentos fascistas, é, como dizia Millôr Fernandes, diferente: ‘todo o Governo é fascista, mas tem fascista que dá pão».

*com Nuno Escobar de Lima