O santo que nasceu numa viagem de comboio

Poucos dias depois da morte de Nelson Mandela (a 5 de dezembro de 2013) deparei-me com esta biografia numa estante da Fnac Chiado. Não sei o que me chamou a atenção – possivelmente foi a cor da capa, bem como o aspeto imponente. O facto de a obra ser assinada por um neto emprestava-lhe também…

Seja como for, a intuição revelou-se certeira. Logo às primeiras linhas percebi que, embora se tratasse de um livro volumoso (daqueles que não precisam de apoio para ficarem em pé), a leitura nunca se revelaria aborrecida.

Comecei por falar de Mandela. Gandhi foi mais do que um grande exemplo para o líder sul-africano. Foi um precursor da luta pelos direitos humanos na própria África do Sul.

O início dessa luta está bem retratado no filme protagonizado por Ben Kinsgley: Gandhi segue a bordo de uma carruagem de primeira classe naquele país (onde chegara em 1893, para representar um abastado comerciante indiano), quando é denunciado por outro passageiro. Só os brancos, na altura, podiam viajar em primeira classe. Interpelado pelo revisor, o jovem advogado indiano mostra o seu bilhete e mantém-se firme. Recusa-se a passar para a segunda classe. Acaba por ser expulso à força na estação de Pietermaritzburg. “Era inverno”, escreveu na autobiografia, e passou frio nessa noite. O tratamento indigno tornou-o solidário com todos os oprimidos.

Antes de viajar para a África do Sul, Gandhi tinha estudado Direito em Inglaterra – para onde partira em rutura com a família, e não sem antes fazer três promessas à mãe: não comeria carne, não cometeria adultério (ele era casado desde os 13 anos) e não tocaria em álcool.

A estreia profissional foi desastrosa. Mas depois disso viria o triunfo: nos 70 casos que se seguiram só perdeu um.

Quando partiu da África do Sul, em 1914, já lhe chamavam “Mahatma” – “santo”. Mas isso ainda era só o prelúdio. As grandes conquistas chegariam mais tarde.