Legalização da canábis em Washington ligada a mais acidentes fatais

Limites de THC no sangue não garantem segurança, diz organização 

O número de condutores sob o efeito de canábis envolvidos em acidentes fatais duplicou desde a legalização desta droga em Washington. Uma análise da AAA Foundation for Traffic Safety, divulgada hoje, sustenta que a alteração à lei teve um impacto nocivo na segurança rodoviária.

Washington foi o terceiro estado norte-americano a legalizar o consumo de canábis, alteração à lei votada em 2012. Segundo a AAA, a percentagem de condutores envolvidos em acidentes fatais que acusaram consumo de canábis subiu de 8% em 2013 para 17% em 2014. Em 2013 houve 436 acidentes fatais e 40 condutores tinham acusado o consumo de canábis. Em 2014 verificaram-se 462 acidentes e 85 condutores estavam sob o efeito da droga. Ou seja, um em cada seis condutores envolvidos em acidentes com vítimas mortais tinha consumido canábis.

Alguns estados norte-americanos têm procurado impor limites ao consumo de canábis para prevenir acidentes, nomeadamente estabelecendo o nível máximo de THC – o principal componente psicoativo da substância – que os condutores podem ter no sangue – no fundo como acontece com os limites de álcool. Em Washington, o limite está em 5 ng/ml mas segundo as estatísticas oficiais no ano passado houve um condutor apanhado com70nh/ml.

Segundo a AAA, não existem evidencias de níveis seguros de marijuana no sangue, uma vez que a droga não é absorvida pelo organismo de forma uniforme. Níveis semelhantes de THC no sangue não afetam as pessoas da mesma forma. Já níveis elevados podem cair para baixo dos limites legais antes de o condutor ser testado, refere a organização, que salienta que as colheitas de sangue podem demorar até duas horas a ser realizada e, nesse período, o efeito pode desaparecer. Há ainda outros aspetos a ter em conta: os níveis de THC no sangue parecem diminuir mais rapidamente em utilizadores ocasionais do que nos utilizadores frequentes.

Portugal está atento às experiências de legalização da canábis nos EUA e na América Latina. Em entrevista ao semanário “SOL”, publicada na edição do último fim de semana, o responsável pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) considerou legítima a discussão sobre a legalização do uso recreativo da canábis, mas sublinhou não haver “pressa” para uma mudança da lei em Portugal. João Goulão considerou prudente esperar pelos resultados das experiências no estrangeiro, sob pena de pôr em causa o sucesso nacional na política de descriminalização do consumo da droga. “Não estou seguro de que [a legalização] reduza o sofrimento”, disse João Goulão.

Desde 2007 que a lei em Portugal permite à PSP e à GNR realizarem exames de rastreio de saliva, para detetar a presença de substâncias psicotrópicas nos condutores. Desde então foram apanhados a conduzir sob o efeito de drogas mais de 700 condutores. Um estudo divulgado no ano passado pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses revelou que a presença de canabinoides em vitimas mortais de acidentes tem vindo a aumentar. A maioria ia a conduzir.