Comerciantes de artigos religiosos em Fátima falam em crise de vendas

Embora o número de visitantes seja cada vez maior, os vendedores dizem vender apenas “coisinhas de um euro” 

As santas maiores, de fibra, custam cerca de 65 euros. “Se fossem noutro material, como madeira, seriam muito mais caras”, diz-nos Henrique Silva, a trabalhar por estes dias na loja dos pais, a dois passos do Santuário de Fátima. Mas estas peças ficam na prateleira. Os vendedores de artigos religiosos são unânimes: cada vez se vendem menos peças e as que saem são as mais baratas. “As santas grandes só são compradas porque alguém quer ter uma em casa, e a maioria das coisas que compram são pequenas lembranças”, explicou. 

Sofia Santos, 37 anos, é empregada na loja número 10 da Praceta de Santo António. “A cada ano que passa sentimos que as pessoas têm cada vez menos dinheiro”, disse. “Vendo mais velas e terços, depende muito.” A trabalhar aqui há 12 anos, a lojista diz reconhecer a cara de alguns clientes. “Mesmo assim, temos pessoas que voltam aqui todos os anos.” Só nesta praceta há 45 lojas e todos os comerciantes tentam praticar os mesmos preços. “Falamos uns com os outros”, explica Sofia. “Mas também temos sempre espaço para fazer um descontinho.”

Na loja número 8, Lurdes Oliveira, 51 anos, corrobora as afirmações da colega. “Vendo cada vez menos. As pessoas só querem coisinhas de um euro. Se fosse menos, melhor ainda.” Diz ter clientes de todas as idades, realidade essa que não muda há muitos anos. “Tenho esta loja há mais de 30 anos. Antes foi dos meus pais, que a herdaram dos avós.” Um verdadeiro negócio de família. “Estes terrenos, e alguns do santuário, eram dos meus avós, que os doaram. Em troca receberam dez lojas aqui da praceta”, explica ao i. Por isso, não é de estranhar que Lurdes sempre tenha trabalhado rodeada de primos, tios, sobrinhos. “Só agora é que algumas lojas começaram a trocar de dono”, confidencia. 

A Praceta de Santo António é um dos primeiros locais onde se começou a fazer negócio com a venda de artigos religiosos. E se aqui ainda é raro ver outros produtos à venda que não os diretamente ligados à devoção mariana ou, pelo menos, ao catolicismo, basta andar dois passos para chegar às lojas que misturam brinquedos de plástico, lenços de Viana e canecas do Sporting, Benfica e Porto com toda a panóplia ligada ao Santuário.

“Isto está muito mau”, desabafa Etelvina Vidal, proprietária de uma loja perto do Largo Francisco Marto, justificando a diversificação do negócio, que passou entretanto para a filha. “Este ano ainda está a ser pior porque tivemos um inverno muito chuvoso.” A chuva continuou esta semana. “As pessoas compram mais quando se vão embora, depois do 13 de maio. Vamos ver.”