NOS Primavera Sound. U.S. Girls não dá nada a ninguém

Meghan Remy descansa-nos, aqui, na estreia do Palco NOS, estamos bem. Um espectáculo digno de uma encenação

Meghan Remy entra pedante. Honras de estreia do Palco NOS dá nisto, mas isso não explica tudo. A artista que vem de Toronto é assim mesmo, o nome até o indica, camisa transparente porque mulher potente usa soutien preto, botas de tacão alto e definido, uma caixa de ritmos chega-lhe para despertar esta audiência ainda a acordar para o festival, ainda no terceiro ou quarto copo.

Não se pode exigir tudo, tudo vai a seu tempo, tal como a aderência a esta pose sensual, mulher altiva que traz companheira para os coros ainda que isso não concretize U.S. Girls. Isso é só Remy, que bem chega para se assumir plural. Em palco, por vezes, a voz de Remy é engolida pela eletrónica. Mas não é que soe mal, faz tudo parte, até quando um guitarrista cowboy surge para tocar um acorde e voltar a esconder-se. Poucas são as cantoras com este nível interpretação, rigor que é o melhor que podemos pedir.

Mal chega "Damn that valley", tema mais rodado de U.S. Girls, ouve-se a meio metro: "Exacto, foi isto que ouvi no Spotify". Talvez isso explique a razão pela qual Remy trata de dizer: "Sorry bue your legs are broken". Nem todo o carisma pode ser correspondido, ou por outra, nem todas as bandas de um festival desta dimensão podem ter fanáticos. Diga-se, no entanto, que esta gente está a gostar, pelo menos pela forma como reage a cada pausa para aplausos.

O que é certo é que a dança se faz valer, daquela meio enrolada, com o peso certo, onde se evitam movimentos bruscos. Cenário quase moribundo, agora que a chuva vai ameaçando com uns chuviscos malandros e inesperados. A segunda vida de U.S. Girls, após ter editado "Half Free", pela 4AD, em 2015 – antes disso já tinha vários discos cá fora mas era praticamente anónima – parece ser indicador que está neste circuito para ficar. E ainda bem que não podíamos pedir melhor início.

Talvez se pedisse uma sala mais fechada, que isto é coisa que impera intimidade. Bom, mas não iremos por aí, queixumes é que não que não vamos a lado nenhum. Espalham-se flores, ou melhor, atiram-se, a raiva toda que Remy tão bem expressa, neste número tão criativo. Depressa as apanha, pede ajuda à colega para varrer, com uma vassoura de boca vermelha, as que sobram no chão. E sai, agarrada ao cesto onde as trouxe. U.S. Girls não dá nada a ninguém. E sem querer ainda dá bastante.