NOS Primavera Sound: Um segundo dia com a ajuda do sol para relaxar

No segundo dia de festival o Parque da Cidade serve de palco para quem quer relaxar, aproveitando o tempo sem chuva. O vento não se transformou em adversário, mas sim num embalo que preparou o público para nomes como Brian Wilson e PJ Harvey

“Olha o drone”, diz uma rapariga, meio fascinada, olhando para cima assim que chega ao Parque da Cidade para o segundo dia do NOS Primavera Sound. O dia – que também é de Portugal – é para ver Brian Wilson e PJ Harvey só que antes, já com o vento a substituir a chuva, a relva dos três palcos deste festival convida o público a disfrutar, sentado ou em pé, de um final de tarde bem poético. O feriado que se celebra esta sexta-feira podia obrigar o público do Primavera a comemorar Luís de Camões, mas teve outro efeito: os que aqui andam aproveitaram para relaxar e recordar aquilo que o tempo deixar – ou os concertos que aí vêm. A “saudade”, essa palavra tão portuguesa, também passou por aqui, afinal.

Às 17h00 é tempo das primeiras pessoas entrarem. No Palco Super Bock os White Haus querem meter o público a dançar, mas a recuperação de um primeiro dia intenso pede ainda algum reforço nas energias. E há muitas formas para o fazer: com uma bebida na mão, na fila de espera de uma coroa das flores (essas estão mesmo para ficar, ontem hoje e amanhã) ou em família. Sim, não foi só no dia 0 do Primavera que os pais e os filhos decidiram aparecer.

“Viemos ontem, este é um sitio que tem espaço para a família, podemos estar tranquilamente” diz ao i Valero, que veio com a mulher e os dois filhos bebés de Madrid para o Porto. Um dos filhos dorme serenamente na relva ao lado do pai, o outro “está algures a brincar com a mãe”, afirma o espanhol. A mulher já cá tinha estado há três anos para fazer uma espécie de radiografia ao festival. Isto é, para saber se o Primavera era então o ideal para vir com os elementos todos. “Não tenho bem ideia do que vamos ver, mas sei que Kiasmos (à meia-noite) já não vai dar para os meus filhos”, conclui entre risos. Claro, não se pode ter tudo, há horários para cumprir e ainda falta outro dia para aproveitar.

A tranquilidade é contagiante, mas de certeza que há quem não largue o bichinho festivaleiro que há dentro de si. “Este festival é o NOS Alive com o chão do Paredes de Coura”. Uma análise tão certeira teria de vir de alguém que conheça bem este tipo de eventos. É o caso de Catarina Wallestein, irmã de Tomás Wallenstein, vocalista dos Capitão Fausto. “Vim com os amigos do meu irmão, os melhores para estar nestes ambientes, e este é sempre o primeiro festival que consigo vir” diz Catarina, uma repetente feliz do Primavera, mesmo antes de Cass McCombs começar o concerto.

Mas assim que McCombs começa, não querendo de todo estragar as energias positivas deste segundo dia, lá ao longe na colina que dá para o Palco Ponto encontramos Daniel da Suíça. Está num banco, muito sossegado, a ler um livro de capa amarela. E como está à espera de Brian Wilson que só chega às 20h00, nada melhor como pôr a leitura em dia. “É a primeira vez que venho ao Porto e a um festival sozinho, eu gosto de fazer as coisas sozinho”, começa por dizer. Os amigos não puderam vir, mas Daniel, convencido pelo alinhamento, decidiu arriscar. “Ontem vi Sigur Rós, a última vez que os tinha visto pensei que não os iria seguir mais porque me pareceu um espetáculo de circo, só que o concerto deles aqui impressionou-me: vieram-me as lágrimas aos olhos. Pensei ‘uau’! ”.  Uma confissão que vem de alguém com um olhar diferente sobre as artes: "são uma forma de nos acordar”, algo que lhe aconteceu quando viu os islandeses.

Admite que adora Portugal pela temperatura – qual é o estrangeiro que não gosta? – e pela sua melancolia. “Gosto da vossa saudade e atmosfera de ontem também ajuda muito a que ‘acordemos’ para algo”, afirma o suíço, talvez inspirado por Jean Paul, escritor alemão do século XIX, que estava a ler. “Sim Jean Paul insere-se no período romântico, descreve as coisas de uma forma bonita. É um bom ‘match’ para este festival”, remata.