Turista que apresentou queixa por violação condenada

Detida desde março, holandesa foi castigada com um ano de pena suspensa por adultério. Pena “branda” que até permite a extradição

Pelos padrões locais, o crime é tão grave que até devia dar direito a revelar a identidade da vítima. Ou melhor, da ré, que ainda assim se mantém apenas identificada como Laura. Uma holandesa que em março decidiu passar férias no Qatar e que, depois de ter sido drogada e vítima de abuso sexual numa festa, decidiu apresentar queixa às autoridades do país.

Foi imediatamente detida pelo facto de a sua queixa ser, ao mesmo tempo, a confissão de uma relação adúltera. E assim esteve desde março, apesar das chamadas de atenção de grupos de defesa dos direitos humanos e dos esforços diplomáticos da embaixada holandesa no local.

Laura, de 22 anos, foi ontem condenada a um ano de prisão com pena suspensa. Uma sentença “branda”, como disse um funcionário do tribunal à Al Jazeera: “Se fosse uma mulher muçulmana, receberia no mínimo cinco anos de cadeia. Ninguém se pode livrar destas acusações no Qatar.”

A leveza da sentença chegou ao ponto de o juiz aceitar que a adúltera cumpra a pena no seu país de origem – o que será o mesmo que dizer que será libertada assim que a deixem viajar de regresso para a Holanda. Yvette Burghgraef-van Eechoud, embaixatriz da Holanda no Qatar, dizia ontem estar a mover todos os esforços “para a tirar do país assim que possível”. Algo que só poderá acontecer depois de Laura pagar os 710 euros de multa a que foi condenada. “Dentro das circunstâncias, Laura está bem”, garantiu a diplomata.

Chicotadas para violador Como em todas as histórias de violação, há também um homem – normalmente o réu, quando a vítima é do género feminino. E mesmo sob os parâmetros do Qatar, não deixou de o ser e até foi identificado com o nome completo. Omar Abdullah al-Hasan também acabou condenado e por dois crimes – mas nenhum deles é de abuso sexual ou mesmo violação.

Por ordem do tribunal, Hassan receberá 100 chicotadas por ter mantido relações sexuais ilícitas, ou extramatrimoniais. E outras 40 por ter bebido álcool em público. Hassan, que confirma a existência do ato sexual mas garante que este foi consensual, será ainda extraditado para a Síria, o seu país de origem.

O caso foi resolvido na véspera de se completarem três meses desde o dia em que Laura foi a uma festa num hotel de Doha, um local onde a proibição de consumo de álcool é vulgarmente esquecida. “Foi dançar e quando voltou à mesa depois de beber, percebeu que tinha sido drogada”, segundo a versão exposta pelo seu advogado, Brian Lokollo. 

Na manhã seguinte acordou sozinha num apartamento que não conhecia, até “perceber que tinha sido violada”. Uma situação que levou a holandesa a apresentar queixa às autoridades. E a ser detida no momento.