Problemas à vista no Canal da Mancha: Calais quer discutir migrantes com Reino Unido

Presidente do município de Calais diz que é preciso rever política de fronteira com Reino Unido após brexit

O aviso não tardou naquele que é um dos temas sensíveis da atual conjuntura europeia. Nem 24 horas depois da vitória do Brexit, já há movimentações em França para que o Reino Unido assuma mais responsabilidades na gestão da crise dos refugiados.

A primeira tomada de posição clara após o referendo é de Natacha Bouchart, presidente do município de Calais. Em declarações na televisão francesa na noite de sexta-feira, citadas pela imprensa internacional, Bouchart anunciou que vai defender junto do governo a suspensão do acordo Le Touquet, que sustenta procedimentos hoje em vigor como a gestão da fronteira ser feita do lado francês bem como a permanência de migrantes num campo onde se estimam estarem cerca de 5000 pessoas e a que tem sido chamado a selva de Calais.

“Os britânicos têm de assumir as consequências da sua decisão”, disse Bouchart. “Temos de pôr tudo em cima da mesa e tem de haver divisão, partilha.” 

Xavier Bertrand, do partido Os Republicanos (centro-direita), já tinha feito um apelo na mesma linha mas no twitter. “Os ingleses quiseram recuperar a sua liberdade. Agora devem recuperar a fronteira.”

Nas últimas horas, o governo francês já veio refrear estas primeiras posições.

Jean-Marc Ayrault, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, reagiu às declarações de Bouchart dizendo que é preciso seriedade na discussão deste assunto, ironizando que passando a fronteira para Dover seria preciso meter lá os barcos para salvar as pessoas de se afogarem, uma ideia que já tinha partilhado nas últimas semanas para descartar qualquer rutura com o Reino Unido nesta matéria. 

A porta-voz do governo, Stephane Le Foll, também já esclareceu que os acordos bilaterais com o Reino Unido, como este assinado em 2003, não são postos em causa com o brexit. O assunto não será contudo consensual no executivo. Em Fevereiro, o ministro francês da Economia mostrou uma linha de pensamento diferente. “No dia em que esta relação se desfizer, os migrantes não vão continuar em Calais”, disse na altura Emmanuel Macron.