“Ao início foi um bicho-de-sete-cabeças”

Dos zero aos quatro em apenas um ano e qualquer coisa. Mariana Seara Cardoso, autora do blogue ‘Aos Pares’, lança agora o livro ‘A Minha Grande Família de Gémeos… a Dobrar’, onde explica como é viver com dois pares de bebés que têm pouco mais de um ano de diferença.

Face aos precedentes na família, o nascimento do primeiro casal de gémeos em 2014 não foi propriamente uma surpresa. Mas quando alguns meses depois Mariana Seara Cardoso descobriu que estava grávida de outro par de gémeos – de gémeas, para ser mais exato – ficou em pânico. Passou um mês «em sofrimento», até que acabou por habituar-se à ideia.

Dia 29, a blogger formada em Marketing lança A Minha Grande Família de Gémeos… a Dobrar (ed. In). Com prefácio do humorista Ricardo Araújo Pereira, o livro tem dicas para jovens mães, ensina a gerir o tempo de forma a ainda sobrar algum no final do dia e conta episódios de um quotidiano que pode ter tanto de caótico como de recompensador.

Que idade tinham os seus filhos mais velhos quando percebeu que estava grávida outra vez?

Sete meses.

E foi logo aí que soube que era de gémeos?

Não percebi logo. Ao princípio pensei que era só um. Quando vim a saber que eram dois foi um choque, uma coisa horrível. Passei um mês em sofrimento, a dizer ‘Ai, meu Deus, como é que eu vou conseguir tomar conta de quatro bebés?’. E o meu marido também – o pânico foi geral.

Como reagiram os seus filhos mais velhos ao nascimento das gémeas, se é que já tinham consciência?

Foi estranho porque viam ali bebés mas eles também eram bebés. Percebiam era que alguém estava a ocupar o nosso tempo e que deixámos de ter todo o tempo só para eles. Hoje dão-se super bem e adoram as irmãs.

Saber que não podia dar-lhes toda a atenção de que precisavam também a angustiava?

Isso era um dos meus grandes medos. E há outra questão que ainda me incomoda: não poder sair sozinha com os quatro. Sou uma pessoa independente e gosto de fazer tudo, mas não consigo sair sozinha com quatro bebés. Acabo por estar dependente de alguém, que é uma coisa que me irrita um bocado. Mas tudo o resto é espetacular.

E consegue dar conta de todos ao mesmo tempo?

Ao início a coisa ainda não estava oleada, demorava mais, agora já é como uma máquina, estou sozinha com os quatro quase todos os dias ao fim do dia, na parte dos jantares e dos banhos, e acaba por ser rápido. Acabei por me habituar a essa realidade, já não é um bicho-de-sete-cabeças, como ao início. Chego ao final do dia cansada, mas não é o fim do mundo.

O facto de serem gémeos não torna tudo mais difícil, uma vez que precisam das mesmas coisas ao mesmo tempo?

Por um lado isso é verdade, mas depois também têm muitas sinergias, e nesse aspeto serem gémeos é uma vantagem. Por outro lado, a relação deles, como irmãos, é fantástica. Não existe nada melhor do que ver essa relação a crescer.

O nascimento do segundo par de gémeos obrigou-a a mudar de casa?

Já ia mudar, obrigou-me foi a alterar o projeto para a nova realidade. A mudança custou um bocado, porque já estavam os quatro ‘cá fora’, mas tivemos ajuda da família e de amigos. Quando a pessoa tem vontade, tudo se faz, e não vale a pena estarmos a lamentar ou a arranjar problemas, porque aquilo é a nossa realidade.

Qual foi o dia mais difícil desde que nasceram as gémeas?

Esta semana. Eles [os mais velhos] entraram na escola em setembro e devem ter apanhado uma virose. Estava sozinha com os quatro, um vomitou, o outro fez diarreia na cama, tive de mudar quatro vezes cada cama. O meu marido estava numa missa, incontactável. Foi o caos.

O seu marido ajuda-a nas tarefas domésticas?

Ele ao início era pai e mãe, foi espetacular. Neste momento felizmente está com bastante trabalho e por isso acaba por chegar a casa mais tarde, mas foi assim que combinámos. Aos fins-de-semana também compensa e é um pai muito presente.

Uma das quatro partes do seu livro chama-se ‘Tempo para mim’. Ainda consegue ter tempo para si?

O tempo de ser muito bem gerido, mas vou conseguindo ter algum para mim. Gosto de fazer desporto – dá-me forças para o resto, e para cuidar dos quatro bebés é importante estar bem.

Ricardo Araújo Pereira assina o prefácio do seu livro. Já se conheciam?

Já nos tínhamos cruzado uma ou outra vez, porque ambos gostamos muito do Benfica e temos amigos em comum. E foi por aí que, na altura do meu casamento, ele fez um vídeo, com aquele humor dele, a gozar com o casamento e a falar dos filhos. Mal sabia eu a aventura que ia ter pela frente… Mas agora lembrei-me dele para o prefácio por causa desse vídeo.

O vídeo foi feito para si?

Para mim e para o meu marido.

Sei que gosta de viajar. Esse foi um prazer a que teve de renunciar?

Sim. Viajar era uma das coisas que nós gostávamos de fazer antes de ter filhos. Sempre que conseguíamos juntar algum dinheiro viajávamos e hoje em dia claro que as coisas estão mais complicadas. Ter com quem os deixar ou levar quatro filhos connosco não é fácil. Mas espero daqui a uns anos poder desforrar-me.

E pensa ter mais filhos ainda?

Não, não! Com quatro já estou satisfeita.