Cidades europeias lutam pela vaga aberta por Londres

Paris, onde Manuel Valls anunciou ontem condições especiais para empresas estrangeiras,junta-se a lista que já conta com Frankfurt e Dublin

Já durante a campanha foi anunciada como uma das principais consequências do Brexit e, mesmo antes de se iniciar a negociação política entre Londres e Bruxelas, é na City de Londres (ou à volta dela) que se veem as principais movimentações do momento.

O primeiro-ministro francês anunciou ontem medidas especiais para empresas estrangeiras, que agora passaram a ter condições fiscais especiais por um período de oito anos e não cinco. O governo francês quer ver Paris – que atualmente é apenas o sétimo centro financeiro da Europa – aproveitar a esperada fuga de Londres por parte das grandes multinacionais, principalmente os maiores bancos mundiais.

Para isso anunciou, para já, uma redução de 33% para 28% na taxação a sociedades, assim como uma desburocratização dos processos administrativos que permitem a transferência de empresas estrangeiras para o país. Tudo medidas a pensar que “as empresas britânicas perderão o passaporte financeiro” que permite às entidades bancárias de um Estado-membro da União Europeia operarem no restante território da união, como já há dias afirmou o ministro da Economia, Emmanuel Macron.

Nas medidas anunciadas ontem, Valls foi acompanhado pela autarca da capital Anne Hidalgo, que também anunciou o objetivo de ajudar Paris a tornar-se “a primeira praça financeira da Europa”.

Mas a França conta com concorrência – começando logo por Londres, onde já se fala numa redução dos impostos às empresas para os 15%. Ainda assim seria superior ao da Irlanda (12,5%), outro país que já mostrou interesse em aproveitar a hemorragia esperada em Londres. Também ontem, o “Wall Street Journal” noticiava que a Morgan Stanley “já criou um grupo de trabalho para analisar outras potenciais localizações na Europa”, enquanto o “Barclays olha para Dublin como uma potencial base europeia”.

No espanhol “El País” escrevia-se que a “provável perda do passaporte europeu” já levou bancos como a JP Morgan a ponderar trasladar ao continente cerca de quatro mil empregados”. Uma decisão que, ainda segundo o mesmo jornal, se pode alastrar a dois mil trabalhadores do HSBC, além da saída de bancos com sede noutros países: 6600 empregados do BNP Paribas e três mil da Société Genéral.

“Os bancos não vão esperar sentados a ver como acabam as negociações entre Londres e a UE”, disse fonte bancária ao diário espanhol, que estima a saída do país de pelo menos 10% dos 250 mil trabalhadores que trabalham na City em atividades relacionadas com a moeda única europeia.

O “WSJ” incluía também a cidade alemã de Frankfurt – que já alberga a sede do Banco Central Europeu – como alternativa. Mas como a cidade tem fama de ser aborrecida, era citado um consultor de Londres a dizer “boa sorte na tentativa de atrair investidores norte-americanos para lá”. Provocação que não ficou sem resposta: “Dizem que Frankfurt é a cidade que faz chorar duas vezes”, disse ao “WSJ” Hubertus Vath, da sociedade financeira da cidade. “Choram quando são enviados para lá e choram quando têm de se ir embora”, concluiu.