Mundo árabe: radicais celebram, líderes condenam

Sem reivindicação do EI, apoiantes celebraram na Internet. Líderes religiosos e políticos condenaram matança.

De forma oficial não havia até ao fecho desta edição qualquer reivindicação do Estado Islâmico – grupo radical sunita que a partir da Síria e do Iraque tem espalhado o terror no mundo desde 2014. Por isso ontem o jornal Le Monde recuperava as declarações de um dos porta-vozes do grupo, Abou Mohamed Al-Adnani, em setembro de 2014: «Se não tiverem engenhos explosivos ou balas para matarem infiéis americanos e infiéis franceses, ou os seus aliados, esmaguem as cabeças deles com pedras, chacinem-nos com uma faca, atirem o vosso carro contra eles, atirem-nos de um sítio, sufoquem-nos ou envenenem-nos».

Sem surpresa, apoiantes do grupo sunita recorreram às redes sociais para celebrar as notícias vindas de Nice. «Deus é grande, o número de mortos chegou aos 62 cruzados franceses e infiéis pecadores», lia-se num tweet várias vezes repetido até ser noticiado pela Reuters. Já o SITE Intel Group, que analisa a atividade online de grupos jihadistas, identificou mensagens onde se defendia que «os franceses fizeram por merecer».

Foi recuperada uma imagem de um veículo pesado, espalhada pelos círculos terroristas com a legenda: «A grande máquina de dizimação». O mesmo grupo mostrava imagens de apoiantes do Daesh a justificarem o massacre de Nice com a morte do checheno Omar Shishani, um dos principais conselheiros militares do líder Abu Bakr al-Baghdadi cujo falecimento foi confirmado pelo EI precisamente horas antes do ataque em França – e quatro meses depois de ter sido anunciada pelos EUA.

Mas se as redes sociais foram o palco de festejos para apoiantes do EI, outros meios serviram para para líderes religiosos e políticos do mundo árabe expressarem a mágoa que sentem ao ver as chocantes imagens do ataque.

Dos «sabotadores seguidores de Satanás», como lhes chamou o grande mufti do Egito, à reação oficial do Governo tunisino aquilo a que chama de «ato de extrema cobardia», foram várias as mensagens de solidariedade.

A também egípcia Universidade Al-Azhar apelou à «união de esforços para derrotar o terror e livrar o mundo deste mal», enquanto o líder da Liga Árabe, Abul Gheit, condenou um «ataque terrorista cobarde».

Já os Estados do Golfo Pérsico, com Arábia Saudita à cabeça, – que voltaram a ser acusados de financiar o Estado Islâmico em recente relatório do Parlamento britânico  –, emitiram um comunicado conjunto onde condenam «fortemente» a barbárie. «O Conselho de Cooperação do Golfo está solidário com a República Francesa na sequência deste incidente criminal cobarde, cujos perpetradores ficaram despojados de moral e valores humanos».

Também saudita, o clérigo Sheik Salman al-Auda prometeu que o terrorista será «amaldiçoado por Deus, os seus anjos e todos os seres humanos».