The Parrots. Garagem-aviário

Papagaios à solta. O trio de Madrid dá um senhor concerto com queixas dos vizinhos do primeiro andar. Agarrem-se que este último dia Super Bock Super Rock vai bruto.

The Parrots. Garagem-aviário

A forma com que se dirigem às cinco filas de pessoas que decidiram vir cedo para os ver demonstra bastante do caráter meio tresloucado destes três madrilenos. "Olááááá" mais alto possível, a acordar os recifes do Oceanário de Lisboa. Presença regular em Portugal desde "Weed for the Parrots", EP editado em 2015 pela Burger Records e que é certamente um dos objetos mais nervosos e agitadores da nova cena indie-rock espanhola. 

O Palco EDP vira a sua garagem, aquelas onde as guitarras estridentes, onde as vozes desconcertantes viram canecas de cerveja e charros de erva, tudo isto enquanto der, antes que os vizinhos de cima alertem que já se faz tarde para tanta barulheira. O calor que se faz sentir pouco antes das 18h impede maior festa, ninguém vai desatar ao encontrões ou se o desejarem tenham noção que vai colar. 

Parecia que estávamos a adivinhar, bem dito bem feito, esta gente não consegue resistir ao rock contagiante, naquele espírito sabemos-que-não-devíamos-fazer-isto-mas-que-se-lixe. É precisamente esse universo que domina a essência destes espanhóis. Será porém injusto esconder o enorme talento dos Parrots nessa atitude estróina e juvenil, de viver-tudo-pelo-limite, estes papagaios são até inteligentes na forma como se abordam à audiência, frases soltas sem grande nexo no intervalo das músicas, pouco papaguear, mais barulho na garagem. 

Da mesma forma que refletimos sobre a noite, que imaginamos o cenário de cinzeiros a transbordar, garrafas com restos com não mais que dois dedos porque já que ter a maturidade de admitir a derrota, não deixamos de querer ir com eles numa pão-de-forma, destruir bares de beira de estrada. A sua motivação é o olhar incómodo dos velhos com lugar automaticamente marcado. 

Olhamos para trás e afinal o EDP está com gente, só que os espertos ficam sentados para reservar energias para Kendrick Lamar, mas mesmo aqui pela frente já não são apenas três filas, um bando de gente aquece pela tarde e vai despachando copos, momento alto na hora de "All My Loving", cover dos Almighty Defenders que também consta do EP do ano passado. Vai-se lindamente por aqui, sinal de quem resistir a este dia tem um dia para andar a debater durante meses. Também lá vão estar estes papagaios.