Deutsche Bank e italianos são os maiores riscos

Economista-chefe do banco germânico defende um resgate à banca europeia de 150 mil milhões. E põe o foco em Itália. Mas o FMI diz que o maior problema está na Alemanha.

A Comissão Europeia e o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble parecem andar muito preocupados com o processo de sanções a Portugal e Espanha por violarem a regra dos 3% do défice, mas os maiores riscos para a estabilidade  europeia e mundial estão no Deutsche Bank e na banca italiana.

O próprio economista-chefe do banco alemão, David Folkerts-Landau, alertou esta semana que os bancos europeus vão precisar de um regaste de cerca de 150 mil milhões de euros.

«Estamos a assistir a uma crise atrás da outra e não vemos perspectivas de crescimento em lado nenhum, A Europa está bastante doente e precisa de começar a fazer frente aos problemas rapidamente ou vai haver um acidente», afirmou numa entrevista ao jornal alemão Die Welt, em que defende até a suspensão das atuais regras de resgate, que estabelecem que devem ser os acionistas dos bancos a suportar os custos do resgate, e não os contribuintes.

David Folkerts-Landau pôs o foco na banca italiana e defendeu que os 40 mil milhões de euros que o Governo estima ser necessário injectar nos bancos italianos é um número conservador, tendo em conta as suas reais necessidades de capital. Um quarto deste valor será para uma só instituição: o Unicredit.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), «a combinação de uma dívida elevada com um crescimento económico baixo podem resultar num cocktail explosivo, com “contágio regional e global». «A não ser que os problemas de qualidade dos ativos e de rentabilidade sejam resolvidos no tempo apropriado, os problemas persistentes dos bancos mais fracos podem, eventualmente, afetar o resto do sistema», alertou  a instituição presidida por Christine Lagarde.

Maior risco é o Deutsche Bank

Mas se é verdade que o malparado dos bancos italianos ascende a cerca de 360 mil milhões de euros (um terço dos créditos problemáticos da Zona Euro), o facto é que para o  FMI o principal risco para a estabilidade mundial está na Alemanha, mais concretamente no Deutsche Bank.

«Entre os bancos globais de importância sistémica [G-SIB], o Deutsche Bank aparenta ser o maior contribuinte líquido para riscos sistémicos, logo seguido do HSBC e do Credit Suisse», refere o FMI num relatório divulgado no final de Junho. Este documento surgiu quase em simultâneo com a divulgação por parte da Reserva Federal de que as unidades norte-americanas deste banco alemão e do espanhol Santander chumbaram nos testes de stress daquele país, tendo sido os únicos em 33 entidades a chumbar. A instituição presidida por Christine Lagarde recomendou ao Governo alemão que reexamine todos os planos de resolução para os bancos, de forma a garantir que estes já estão devidamente operacionalizados, incluindo a capacidade para avaliar em tempo útil os ativos eventualmente transferidos em contexto de resolução.

No ano passado, o Deutsche Bank teve o pior resultado da sua história, com prejuízos de 6.700 milhões de euros. E para este ano não se prevêem lucros, como já admitiu o presidente do banco.

No relatório divulgado no final de junho, o FMI não alerta só para o sistema bancário alemão. «Alemanha, França, Reino Unido e os EUA apresentam o maior risco de contágio dada a percentagem de perdas de capital que podem infligir em outros sistemas bancários.»

Coincidência ou não, quando o ministro das Finançsa alemão Wolfgang Schäuble foi confrontado com os problemas no Deutsche Bank, preferiu responder que estava mais preocupado com Portugal.

Schäuble  foi mais longe ao afirmar até que o nosso país iria pedir mesmo e um segundo resgate e «vai consegui-lo». Uma declaração polémica corrigida mais tarde. «Os portugueses não o querem e não vão precisar [de um novo resgate] se cumprirem as regras europeias». O Ministério das Finanças não perdeu tempo a reagir. «Tendo em conta as declarações do ministro alemão das finanças, Wolfgang Schäuble, e ainda que tendo sido imediatamente corrigidas pelo próprio, o Ministério das Finanças esclarece que não está em consideração qualquer novo plano de ajuda financeira a Portugal, ao contrário do que o governante alemão inicialmente terá dito».