Erdogan declara estado de emergência na Turquia

 O estado de emergência irá vigorar durante três meses.

Erdogan declara estado de emergência na Turquia

Em declaração televisiva na noite de ontem, Recep Tayyip Erdogan anunciou a instauração do estado de emergência na Turquia por um período de três meses –uma medida que tem como objetivo “remover o mais rapidamente possível” a ameaça representada pela tentativa falhada de golpe de Estado, na última sexta-feira.

Depois de mais de 50 mil detenções no aparelho do Estado (pág. 22), Erdogan reforça assim os poderes constitucionais de forma a intensificar a purga que relaciona com o seu grande inimigo – o líder religioso Fethullah Gülen, acusado de, a partir dos EUA, onde está exilado, liderar um Estado paralelo, através da sua grande influência em meios como a comunicação social, o setor da educação turco ou a própria política interna do país. Gülen, cuja extradição voltou a ser exigida por Ancara a Washington, já garantiu repetidas vezes que não tem qualquer ligação à tentativa de golpe.

Na comunicação, realizada após reunião do Conselho de Segurança Nacional, Erdogan explicou que o estado de emergência é necessário “de forma a remover o mais rapidamente possível todos os elementos da organização terrorista envolvida nesta tentativa de golpe”. E pediu ao povo turco, ao mesmo a quem pediu para enfrentar os militares nas ruas durante a tentativa de golpe de sexta-feira, para não ter “a mínima preocupação em relação à democracia, ao Estado de direito ou a direitos e liberdades fundamentais”.

“Gostava de sublinhar que esta declaração do estado de emergência tem o único propósito de permitir as medidas necessárias para enfrentar a ameaça terrorista que o nosso país encara”, disse Erdogan ao prometer que “o vírus nas forças militares será eliminado”.

Ao decretar os três meses de estado de exceção – a Constituição turca permite um máximo de seis –, Erdogan lembrou ainda os “mártires” existentes entre as 232 vítimas mortais de sexta-feira. A nação, promete o presidente, “nunca esquecerá a bravura e o sacrifício daqueles que perderam a vida”, lembrando as cenas “de bravura heroica” que se viram durante a noite.

Horas antes da declaração à nação, o homem que chefiou o governo durante 11 anos antes de assumir a presidência, em 2014, relatou à Al Jazeera como viveu as horas do golpe, quando foram cortados os principais acessos às cidades de Istambul e Ancara: “Fui de férias para Marmaris”, confirmou sobre o já noticiado destino de férias, mais de 700 quilómetros a sul de Istambul.

“As notícias chegaram sobre a tentativa de golpe, o primeiro a avisar-me foi o meu cunhado”, continuou o líder turco numa referência que parece uma resposta irónica aos que dizem que todo o sucedido não passou de uma encenação. “Não o levei a sério, primeiro não quis acreditar. Mas depois tomámos os passos necessários para confirmar, com os serviços secretos e vários outros canais. Estava com o ministro do Interior nesse momento. Tomámos as medidas necessárias para sair do hotel. E depois fomos para Istambul a partir de Dalaman”, explicou o homem que viria a ser recebido em apoteose num Aeroporto Atatürk que, horas antes, fora tomado pelos golpistas.