Qual foi o papel de Schäuble no cancelamento das sanções?

“A teoria de que Schäuble telefonou aos comissários não faz sentido nenhum. Isso não é verdade”, assegura ao SOL uma fonte da Comissão Europeia

Qual foi o papel de Schäuble no cancelamento das sanções?

O jornal alemão Handelsblatt global diz que Wolfgang Schäuble fez lóbi junto de vários comissários europeus para que Portugal e Espanha não sofressem sanções e ontem já o El Mundo garantia que o ministro das Finanças alemão defendia uma "sanção zero" aos países incumpridores. Mas há muitas dúvidas sobre o verdadeiro papel de Schäuble em todo o processo.

"A teoria de que Schäuble telefonou aos comissários não faz sentido nenhum. Isso não é verdade", assegura ao SOL uma fonte da Comissão Europeia, explicando que a informação que correu em Bruxelas foi a de que o alemão transmitiu ao colega espanhol, o ministro Luis de Guindos, que não se oporia a um cenário de sanção zero.

"Mas não houve lóbi junto dos comissários", assegura a mesma fonte.

De resto, o gabinete do ministro de Angela Merkel ainda não comentou as notícias que dão conta do seu alegado envolvimento no processo de cancelamento de sanções.

Fonte de Bruxelas assegura ao SOL que a decisão que levou a cancelar o processo foi tomada hoje. "Foi hoje que o conselho de comissários virou", conta a mesma fonte, admitindo que essa mudança apanhou "de surpresa" aqueles que estavam a lutar para que Portugal e Espanha não tivessem sanções.

De resto, até hoje Alemanha, Holanda e Finlândia estiveram sempre na linha mais dura da defesa da aplicação de sanções a Portugal e Espanha.

Não juntar crise à crise

O contexto político europeu, marcado pelas crises do terrorismo, dos refugiados e do Brexit, e os argumentos levados por António Costa sobre o esforço feito por Portugal pesaram muito na decisão.

"Portugal tinha argumentos muito fortes", afiança uma fonte da Comissão.

Também terá pesado o facto de António Costa ter ameaçado com a ameaça de um processo no Tribunal de Justiça da União Europeia, invocando a violação dos princípios da igualdade e da proporcionalidade.

Caso Portugal fosse sancionado, seria difícil à Comissão justificar por que motivo estava a castigar um país que desceu para os 3,2% de défice, depois de ter deixado passar sem punição os incumprimentos de França, Itália e Espanha.

Por outro lado, era difícil estabelecer uma multa justa para Portugal e Espanha. Madrid apresenta números muito piores do que Lisboa – o défice ficou em 2015 nos 5,2% – e seria difícil sustentar um castigo igual para situações tão diferentes, até porque o esforço de consolidação orçamental foi, entre 2013 e 2015, muito superior em Portugal relativamente ao que foi feito em Espanha.

No meio de tudo isto e com a divulgação dos testes de stress à banca europeia marcados para esta sexta-feira, a decisão de cancelar as sanções começou a parecer a decisão política mais prudente.