Kenzo Takada. Sair de cena sem sair da passerelle

Juntamente com Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Issey Miyake foi um dos designers japoneses que, nos anos 1970, tomou de assalto a moda francesa. Ainda que se tenha afastado da sua própria marca em 1999, continua a assistir a todos os desfiles na primeira fila. Em novembro, a Kenzo apresenta uma parceria com a H&M.

Padrões tigresse em cores fortes, silhuetas coleantes, visuais marcantes. É o que fica dos primeiros visuais revelados da colaboração entre a Kenzo e a H&M, que chegará a 250 lojas da cadeia sueca a 3 de novembro (em Portugal estará disponível apenas na loja da Rua do Carmo e online), e que se segue a outras parcerias, como com Karl Lagerfeld, Roberto Cavalli, Lanvin, Versace, Alexander Wang, Margiela e Balmain. Por enquanto são apenas três as fotografias já reveladas e onde o protagonismo foi dado, não a manequins profissionais, mas antes a amigos da marca, artistas plásticos, criativos e ativistas de Paris, Londres e Nova Iorque. “São pessoas que admiramos, ícones nas suas áreas”, diz Humberto Leon.

A marca está a prepara-se para celebrar os seus 50 anos e os diretores criativos desde há cinco anos, Carol Lim e Humberto Leon,  aproveitaram a colaboração com a H&M para uma viagem até ao passado: foi nos arquivos da marca francesa que descobriram, por exemplo, os padrões que agora usaram para estas peças.

“Muitos clientes conhecem apenas o lado da Kenzo em que trabalhamos, mas estamos a celebrar os 50 anos da marca e temos mantido Kenzo Takada perto do coração. Queremos fazer algo de que ele se orgulhe”, contou Leon à “Vogue” norte-americana.

De resto, o fundador da marca, continua a marcar presença em todos os desfiles da marca que criou em 1970 e da qual se afastou em 1999.

Mas, talvez devido ao caráter discreto que caracteriza – e tem caracterizado – os seus sucessores, muitos são aqueles que ainda associam Kenzo Takada à direção criativa da marca que carrega o seu nome.

A história familiar de Kenzo Takada tinha-lhe traçado uma vida ligada à literatura, mas o jovem, nascido em 1940 em Himeiji, no Japão, tinha outros planos e foi isso que o levou para Tóquio onde pintava casas de dia e estudava artes à noite, na Bunka Gakuen School of Fashion, uma escola quase totalmente feminina. Bastaram-lhe dois anos para começar a dar nas vistas enquanto designer de moda, sagrando-se vencedor do prestigiado prémio Soen. Foi depois desta vitória que conseguiu o seu primeiro emprego na moda, a desenhar a coleção feminina da loja Sanai.

Em 1964, influenciado pela revolução protagonizada por Courreges, o japonês fez as malas rumo a Paris, onde viu os seus desenhos serem aceites pela casa Louis Feraud, no entanto não lhe valeram um lugar como designer, o que o obrigou a passar os anos seguintes entre empregos em lojas de roupa e empresas têxteis. Mas no arranque da nova década decidiu aventurar-se novamente a solo: comprou uma loja antiga, recuperou-a e aí começou a produzir as suas próprias criações. O sucesso chegou quase de imediato e levou Kenzo Takada a mudar por duas vezes num curtíssimo espaço de tempo de espaço. Quando nas Galeries Vivienne batizou a sua loja de Jungle Jap (em tradução livre, Japonês da Selva) e logo de seguida as suas criações apareceram num editorial da “Vogue” norte-americana, que o apontou como the next big thing de Paris, com os seus padrões florais e animais, a sua predileção por cortes simples e quase infantis, e as suas influências asiáticas em pormenores de construção, como as mangas e os ombros. À data, a moda japonesa tomava de assalto a cidade francesa, com, além de Kenzo, Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Issey Miyake.

Depois de começar também a desenhar para homem, no ano da maioridade da sua marca, em 1988, lançou o primeiro de uma longa lista de perfumes. Aliás, a marca é hoje mais reconhecida pelo seu trabalho ao nível da perfumaria do que do vestuário.

Apesar do sucesso e do seu nome perdurar até à atualidade, Kenzo Takada esteve à frente da sua própria marca durante apenas 23 anos. Em 1993, vendeu-a ao gigante do luxo LVMH e, seis anos mais tarde, anunciou que se afastaria da direção criativa. O japonês quis finalmente dedicar-se ao mesmo sonho que o fez abandonar os sonhos da família de que estudasse literatura, e dedicar-se mais à arte. Mas a verdade é que o design parece não o deixar e, em 2005, Kenzo Takada criou a Gokan Kobo, uma marca de design de mobiliário e objetos de decoração. E o japonês continua ainda a ser o responsável pelo lançamento de novos perfumes com o seu nome. Além de nunca deixar de estar na primeira fila dos desfiles que levam o seu próprio nome.