País Basco: autoridades querem impedir Otegi de ir a votos

Governo e justiça de Madrid apostam na criminalização dos independentistas bascos com receio de que possam vencer nas urnas

Quando saiu da cadeia, há uns meses, Otegi era aguardado por centenas de simpatizantes. Na altura pronunciou, durante o seu discurso, a que assistiu a equipa de reportagem do i, em euskera (basco) e castelhano, que quem decidia quem seria o lehendakari (presidente do governo basco) era o povo e apenas o povo. Depois de cumprir uma longa pena de prisão, o líder dos independentistas radicais bascos tem sobre ele uma pena acrescida de privação de direitos políticos. O governo do PP está a fazer todos os esforços para o impedir de concorrer às eleições de outubro.

“Terão de fazer batota” Em entrevista esta última terça-feira à rádio Cadena Ser, o candidato a lehendakari pela coligação da esquerda independentista basca EH Bildu, Arnaldo Otegi, garantiu que aceitará não concorrer se o Tribunal Constitucional assim o decidir. No entanto. mostrou-se convicto de que será candidato a presidir o governo basco e será eleito para o novo parlamento basco. “Se alguém quiser desqualificar-me, tem de fazer batota e deitar fora toda a jurisprudência”, disse, criticando ainda o governo de Madrid por ter a intenção de conduzir a política e a democracia no País Basco “à turca”.

O líder dos independentistas bascos, que foi preso por alegada cumplicidade com a ETA, numa altura em que conseguiu que a organização armada abandonasse as armas e os atentados terroristas, disse que não sabia quando iria entregar a sua candidatura, mas que seria certamente apresentado como o cabeça de lista dos independentistas ao círculo eleitoral da Guipúscoa, local onde a esquerda basca tem os melhores resultados e era, até ao aparecimento do Podemos, maioritária.

Sobre as declarações do magistrado-chefe da Audiência Nacional, Javier Zaragoza, que declarou que estava tudo decidido e que Otegi está impedido de participar em eleições até 2021, o líder independentista foi perentório: “Tenho a meu favor a jurisprudência da Audiência Nacional, do Tribunal Supremo e do Tribunal Constitucional. Este debate [de eu não poder concorrer], em termos jurídicos, não tem nenhum sentido”, afirmou, acrescentando: “Concordo com Josi Erkoreka, porta-voz do governo basco, quando ele diz que o mais importante não é se me impedem de concorrer ou não, mas ‘se há democracia ou não há democracia’.” 

Efeitos colaterais Segundo o jornal “El País”, esta estratégia ,seguida pelo PP e pelo governo, de impedir Otegi de concorrer poderá ter como efeito que todo o processo eleitoral decorrerá sob o signo da discussão deste problema – até porque a quantidade de recursos possíveis farão com que, no limite, seja o Tribunal Constitucional a decidir sobre uma candidatura, quando a campanha eleitoral começa oficialmente no dia 9 de setembro. Esta disputa é entendida pela maioria da sociedade basca como a criminalização de uma parte importante da cidadania da região e poderá ter como efeito direto que a esquerda independentista recupere as dezenas de milhares de votos que perdeu para o Podemos, que nas últimas duas eleições nacionais, de dezembro e julho, se tornou a primeira força política na Comunidade Autónoma Basca, que agrupa as províncias de Biscaia, Guipúscoa e Alava. 

Da parte do Podemos, para impedir este cenário, a cabeça de lista desta força política é irmã de Zabala, um etarra torturado até à morte por um esquadrão da morte das autoridades de Madrid: os GAL.