Fear The Walking Dead. Em Espanha ou se é fã ou lá vem o apocalipse

Estreia no dia 22 a segunda parte da segunda temporada do spin-off da série “The Walking Dead”. Em Madrid, Alycia Debnam- -Carey e Colman Domingo falaram dos novos desafios das suas personagens, enquanto lá fora o fenómeno zombie respirava saúde em terras de nuestros hermanos

Ir a Madrid é apanhar, em cada metro cúbico, um qualquer relações públicas com uma vontade imensa de nos vender cocktails fantásticos em festas inesquecíveis – quase toda esta introdução faz parte de uma fábula que os tais vendedores nos põem na cabeça, mas faz parte da vida da cidade, vá-se lá saber porquê. Mas ir à capital de Espanha é também, num bom dia de sol, a oportunidade perfeita para falar sobre outras histórias, aquelas com zombies que o mundo aprendeu a adorar até não poder mais. E dar de caras com um grupo histérico de cerca de 30 fãs espanholas da série “Fear The Walking Dead”, um spin-off da badalada “The Walking Dead”, que estreia a segunda parte da segunda temporada no próximo dia 22 de agosto, no AMC. Isso e falar com Alycia Debnam-Carey e Colman Domingo, dois atores que ainda “estão vivos” para conversar um pouco sobre aquilo que estes episódios podem trazer. 

No The Westin Palace, ou um dos hotéis mais chiques dos arredores madrilenos, há 15 minutos para cada jornalista, nem mais um segundo – se o apocalipse fosse mesmo real, o pouco tempo até que dava jeito nas movimentadas ruas de Madrid se fosse preciso correr dali para fora. A menos que nos perdêssemos no banquete de comida que nos foi apresentado – aí seria mais complicado. 

A primeira é Alycia Debnam-Carey (na série é Alicia, uma adolescente com necessidade de se afirmar no mundo apocalíptico). Não é fácil entrevistar uma atriz que parece saída de um filme de princesas, mas as idades parecidas – a australiana fazia 23 anos em julho – facilitaram o diálogo. “Tens uma barba muito fixe, não pareces nada ter a idade que tens”, larga no modo quebrar-o-gelo que logo se transforma no modo e-agora. Agora fala-se de como a sua personagem cresceu a bordo do barco Abigail (sim, a ameaça nesta nova série de oito episódios são zombies na água, fanáticos religiosos e uma espécie de salteadores da humanidade perdida). 

“Na primeira temporada, a Alicia é uma adolescente normal de 17 anos que tem de lidar com uma família fraturada. Na segunda, ela tenta tomar iniciativa e isso traz-lhe alguns problemas. Mas agora, nesta segunda metade, vamos vê-la tomar o seu lugar e provar que já é adulta.” Fora os problemas familiares – ficou tudo dividido no último episódio, Alicia está com a mãe, Madison (Kim Dickens), e com Victor Strand (Colman Domingo), o senhor que entrevistamos a seguir – e as cenas de ação “que parecem muito violentas mas quando se fazem é cómico” -, está tudo bem na Califórnia, onde filmaram a maior parte das cenas nuns tanques do “tamanho de campos de futebol americano”, utilizados no filme “Titanic”. Quer dizer, está tudo bem, mais ou menos: afinal há sempre zombies à espreita, mas o medo desta personagem é só um: “Perder a mãe, só que agora o medo foi ultrapassado pela ação.” 

Claro que, para uma jovem de 22 anos a ganhar fama no mundo das séries televisivas, existem outros medos. E quando questionada sobre se este é, afinal, o maior desafio da sua carreira, resposta só há uma: “Esta é a primeira tournée em que as coisas mudaram um bocadinho. Tento não pensar muito nisso, assusta-me.” Se tivéssemos zombies atrás de nós 24/24h, também tentaríamos não pensar muito nisso… Quanto à fama, Alycia quase poderia ter provado as mudanças no seu nível de fama, pois à sua espera estava um grupo de cerca de 30 espanholas que estiveram a manhã, a tarde e, quem sabe, a noite junto ao hotel, alimentadas pela esperança de ver a atriz e entregar-lhe algumas prendas. Criaram uma conta de WhatsApp e tudo. 

Acabaram por ter Colman Domingo (ou Strand, homem de negócios que se transforma no capitão mal-amado do navio que salva todas as personagens). Tirou fotografias, abraçou-as, tudo a que tinham direito. Ninguém diria que ali estava um ator que escreve peças de teatro – vai ter uma este ano em Los Angeles -, faz filmes e entra no spin-off de uma das séries mais badaladas deste milénio. Antes de sair para a rua, Colman falou com o i. Cumprimenta-nos com um “Hey, hey!”, como ditam as regras de qualquer marinheiro. O jeito descontraído serve para perguntar, sem perder muito tempo, se Strand, afinal, é ou não o antivilão desta história. “O júri ainda tem de decidir isso. Ele tem servido os seus próprios interesses, mas tem sido para dar algo aos outros na sua jornada”, começa por dizer. E como qualquer bom homem de negócios, esta personagem pesa “os prós e contras de todos os aspetos de uma decisão antes de a tomar”. Mas há um lado sentimental em Strand: tudo o que fez foi por amor a outro homem. É exatamente essa a decisão que serve de mote nesta temporada: “sangue ou ligação” (“blood or bond”, no sotaque norte- -americano deste ator soa muito melhor).

Colman, que se confessa um “erudito nada zombie”, olha para o mundo real com algum receio, já que a loucura em que vivemos parece ter semelhanças com “Fear The Walking Dead” – e os “caminhantes” com cheiro a podre ainda nem deram sinal de vida, entenda-se. “Não sei se estou a abraçar tanta loucura, Strand acredita que é preciso abraçá-la porque vai acontecer e não pode ser emocional, tem de ver os benefícios e como pode sobreviver. Strand não sabe, acho que estamos à procura de um novo caminho, mas não podemos voltar às regras antigas.” E pelas regras que nos foram impostas nestas entrevistas, tempo já não há. Só para fazer um convite informal para navegar na costa portuguesa – garantindo segurança, claro -, ao qual Colman Domingo reagiu com entusiasmo.