Sarkozy formaliza que vai ser candidato às presidenciais francesas

O ex-presidente anunciou ontem a sua intenção publicando no Twitter uma passagem do seu novo livro 

“Decidi ser candidato às eleições presidenciais de 2017. A França exige que lhe demos tudo. Senti que tenho a força para fazer este combate neste momento tão tormentoso da nossa história”: é esta frase que consta de uma das primeiras páginas do seu novo livro, editado ontem, “Tout pour la France”, que assinala a intenção de Nicolas Sarkozy de voltar a ocupar o Palácio do Eliseu. 

O texto parece um clássico em matéria de declarações dos políticos, mas a forma como o antigo presidente escolheu é moderna: o livro ainda não está nas bancas, mas Sarkozy usou a sua conta do Twitter para mostrar a capa e esta passagem em concreto.

Sarkozy anunciou que abandonará a presidência do seu partido, Os Republicanos (LR), para concorrer às eleições primárias de novembro.

Sarkozy, que foi derrotado pelo atual presidente François Hollande quando tentou recandidatar-se em 2012. Em julho de 2014 foi constituído arguido por suspeitas de corrupção ativa, tráfico de influências e violação do segredo de justiça, depois de ter sido detido para averiguações, numa medida coerciva aplicada pela primeira vez a um antigo chefe de Estado francês, e de ter passado 15 horas em interrogatório perante a polícia e outras três horas perante os juízes.

Essas acusações não o impediram de retomar a direção do principal partido da oposição francesa, Os Republicanos, nesse mesmo ano de 2014. Para ser candidato do centro-direita, o antigo presidente terá de vencer as eleições primárias, que se realizam em novembro de 2016. Já 12 candidatos estão na liça para disputar estas primárias, mas parece expectável que seja Nicolas Sarkozy quem está em melhores condições de as vencer. 

As acusações de corrupção, no processo em que foi constituído arguido, fizeram com que durante muitos anos as sondagens o dessem como facilmente derrotado nas primárias do centro-direita por qualquer dos seus principais adversários (Alain Juppé, François Fillon e Bruno Le Maire). A sua estratégia mediática dos últimos tempos, que implicou a publicação de dois livros nos espaço de oito meses, parece estar a dar resultado, pelo menos nas sondagens: segundo um estudo da Ipsos, ganharia as primárias por sete pontos percentuais e, segundo um inquérito da BVA, essa vantagem seria superior a 10 pontos percentuais.

Esta mudança que coloca, pela primeira vez, em desvantagem o seu principal opositor nas primárias, o antigo primeiro-ministro Alain Juppé, é interpretada como um efeito que os ataques terroristas têm em grande parte do eleitorado de direita francês. 

O anúncio do ex-presidente é feito numa altura em que o governo socialista atinge valores muito baixos nas sondagens, entalados à esquerda pela intenção do governo de mudar as leis laborais, e à direita e em muitos setores da população pela perceção que muitos têm, apesar do agravar das medidas securitárias, que as autoridades não têm conseguido lidar com o problema do terrorismo islâmico.

Sarkozy aparece nesse terreno quase a ultrapassar a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, e ao fazer propostas como a “criação de um Guantánamo francês” para prender os condenados por terrorismo. “Estamos numa guerra que vai durar e com uma ameaça que se renova sem cessar”, declarou na altura dos atentados de Nice o ex-presidente. 

Nas últimas semanas, Sarkozy mostrou quais vão ser os principais eixos da sua campanha: a identidade, a segurança e a laicidade, tudo temas caros à extrema-direita francesa, encarnada por uma candidata que tem vencido as últimas eleições com a sua Frente Nacional.

Resta saber se os eleitores de direita vão preferir a cópia ao original e se, com estes temas, Nicolas Sarkozy poderá garantir os votos da esquerda numa hipotética segunda volta.