Austrália. Ex-juiz oferece-se para trocar de lugar com um refugiado

Jim Macken pretende acabar os seus dias num dos campos de detenção do Pacífico.

Austrália. Ex-juiz oferece-se para trocar de lugar com um refugiado

Numa carta enviada ao Ministro da Imigração e outros membros do governo, o antigo juiz, de 88 anos, quer oferecer a um refugiado de Manus ou Nauru – duas das ilhas onde se encontram campos de detenção de imigrantes e requerentes de asilo –  o “direito de ser cidadão australiano”. Para tal, pede que as autoridades do seu país aceitem o seu pedido e permitam que troque de lugar com uma destas pessoas.
 
“Não tenho nada a perder”, escreveu Macken. “Se isto der para retirar um refugiado de uma daquelas ilhas e lhe der a chance de ter uma vida na Austrália, estou preparado para o fazer”, afiançou, citado pelo “The Guardian”. Ao jornal britânico, o antigo juiz disse mesmo estar preparado para ficar em Nauru ou nas Ilhas Manus até morrer, tendo confessado que consideraria um “privilégio” viver os seus “últimos dias” num daqueles campos de refugiados.

Tal como na região mediterrânica, também o número de requerentes de asilo que chegam de barco às costas do continente australiano – oriundos de países como a Indonésia, Timor-Leste ou Papua Nova Guiné – tem vindo a aumentar de forma colossal desde 2012. E tal como no mar que banha o sul do continente europeu, também nesta região do Pacífico são muitos os que morrem antes de chegar a terra.

Para os que conseguem fazer a travessia, poucos são aqueles que permanecem efetivamente em solo australiano. Faz parte do procedimento de requisição de asilo da Austrália, enviar os imigrantes para campos de detenção, como Nauru ou as Ilhas Manus, dirigidas por empresas australianas de segurança privada, onde já foram reportadas várias situações de maus tratos ou assédio sexual.

Jim Macken entende que o seu pedido ao Ministro da Imigração da Austrália, Peter Dutton, pode parecer “invulgar”, mas assegura que o mesmo é “completamente sincero”.

“As minhas razões para fazer esta proposta são simples”, continua a carta. “Não posso permanecer em silêncio enquanto homens, mulheres e crianças inocentes permanecem presos em circunstâncias chocantes nas Ilhas Manus e em Nauru”.
Segundo relata a cadeia de televisão britânica BBC, Macken está também preparado para renunciar à cidadania australiana, se isso ajudar no processo de troca.

Para além de ter exercido funções de juiz em New South Wales, durante a grande maioria da sua carreira profissional, Macken também trabalhou como advogado e esteve várias vezes ligado a movimentos sindicais. É membro do Partido Trabalhista Australiano, sendo uma das principais vozes críticas dentro do próprio partido nesta questão do processamento dos pedidos de asilo fora do território Australiano.

Para já, o pedido ainda não foi aceite por Dutton ou por algum dirigente político ligado ao governo.