A um dia do arranque do apuramento para o Mundial'2018, na Rússia, Nani deu uma entrevista emocional à FIFA, onde recordou as dificuldades que passou na infância e adolescência. "Sempre tive de lutar muito. Passei por muito desde criança e continuo a lutar para manter aquilo que quero na vida. O futebol salvou-me de me meter em problemas", confessou o capitão de Portugal na ausência de Cristiano Ronaldo.
"Também tive uma luta intensa no futebol para atingir os objetivos que propus a mim próprio. Sempre pensei que isso fosse possível. Hoje, estou muito satisfeito com o que alcancei porque sou o único que sei aquilo que passei e o quanto tive de lutar para chegar aqui", prosseguiu o internacional português: "Quero mostrar ao meu filho onde estava, onde onde comecei, onde joguei. Quero que ele saiba que nem tudo na vida é tão fácil quanto parece agora. Estou a tentar fazer com que ele seja uma boa pessoa, para que possa alcançar as suas metas no futuro."
Por essas razões, Nani acredita que a sua experiência pode ser muito útil para as gerações do futuro. "O meu passado pode mostrar às crianças que um dia podem ser como eu, porque apesar de passarmos por tempos bastante difíceis na vida, temos de lutar e procurar a felicidade. Não devíamos deixar os nossos sonhos. Se lutarmos, coisas boas acontecem no final", salientou o extremo do Valência, completando: "Não há dúvidas de que o futebol salvou-me de meter-me em problemas quando era miúdo. Não vou dizer que nunca fiz nada de errado. Onde eu vivia, isso era normal. Fiz algumas coisas erradas com os meus amigos, coisas de miúdos, que me desviavam do caminho certo. Mas quando chegava a hora de jogar futebol, deixava tudo de lado. Mantinha-me ocupado e para mim tudo girava em torno do jogo. Foi assim que me livrei das coisas más."
"Mais respeito por Portugal agora? Se calhar, deviam!"
Nani abordou ainda o trajeto da Seleção nacional rumo à histórica conquista do Europeu em França, começando por considerar este o título "mais importante" da sua carreira, apesar de já ter conquistado cinco ligas inglesas, uma Liga dos Campeões ou duas Taças de Portugal. "É o que significa mais, porque foi ganho pela seleção. É algo com que nós jogadores sempre sonhámos, estou muito orgulhoso de poder representar o meu país e alcançar algo tão importante para nós", assumiu o internacional português, que marcou três golos na competição, tantos como Cristiano Ronaldo. O CR7 ganhou a Bota de Prata, mas acabou por oferecê-la a Nani. "Marcámos os mesmos golos no torneio e fiquei realmente agradecido pelo presente. Foi um gesto simpático e tocou-me. Ele disse: 'Estou a dar-te isto pela tua atitude, por todo o teu esforço e por tudo o que fizeste nesta equipa, porque ajudaste muito'", conou Nani.
Na memória de todos continuam as imagens da dor e desespero de Ronaldo na final. "Foi um momento triste. Ele é o nosso capitão, uma pessoa pela qual temos um grande respeito e alguém que lutou muito por nós. Portanto, nesse momento, quando vi que estava lesionado senti-me triste quando ele disse que não podia continuar. Jogar aquela final era um momento especial para todos, em particular para ele, por isso foi extremamente triste. Disse-lhe que não o ia desiludir, que ia dar tudo e que íamos tentar vencer o jogo, porque merecíamos. Foi um momento chave. A nossa mentalidade mudou e jogámos o futebol que tínhamos dentro de nós. Lutámos e no final venceu a equipa que sofreu mais", considerou Nani.
Questionado sobre se o facto de Portugal ser campeão europeu fazia com as que outras equipas tivessem mais respeito pela Seleção lusa, o jogador riu-se. "Fazia sentido que o fizessem, não fazia? Mas não importa se não o fazem, o mais importante é o que nós fazemos. Vamos continuar com a mesma ambição e ter prazer no nosso futebol, como sempre. Depois de vencermos o Euro, estamos muito fortes e cheios de confiança", atirou o ex-jogador do Sporting, antevendo o jogo de amanhã com a Suíça: "Temos de começar bem e tentar impor as nossas qualidades desde o começo, de modo a que não nos preocupemos no final. Sabemos que a Suíça é uma equipa muito forte e vão jogar em casa, portanto, não será fácil. Para além disso, agora que somos campeões europeus, as outras equipas vão estar ainda mais determinadas em vencer-nos. Mas o nosso objetivo é ganhar qualquer jogo."
"Vencer o Mundial é um dos objetivos"
Pleno de confiança, Nani garantiu mesmo que "vencer o Mundial é um dos objetivos" da Seleção nacional. "Quando se começa a vencer, não se pode mudar de atitude. Obviamente, não há uma garantia de que se vai ganhar sempre, mas a ambição e atitude têm de estar lá sempre. O futebol é um jogo de sonhos e temos de continuar a sonhar para alcançar grandes coisas, como o Euro. Temos de ver o que acontece na qualificação do Mundial, mas vamos tentar levar Portugal o mais alto possível", realçou o extremo, explicando o porquê de se ter mudado para o Valência: "Queria muito jogar em Espanha e esta oportunidade surgiu no melhor período da minha vida. Acho que posso contribuir com trabalho árduo e uma mentalidade forte. Quero ajudar o Valência e dar tudo o que tenho. Começámos a liga com duas derrotas e não é assim que se deve começar. Precisamos de melhorar algumas coisas, mas temos condições para jogar bem e vencer."
Para breve está o reencontro com Cristiano Ronaldo, agora como adversários. "Já vi quando é que nos defrontamos e é cedo (risos). Ainda não falei com o Cristiano sobre isso, mas vai ser difícil para nós, porque o Real Madrid é uma equipa forte com os melhores jogadores do mundo. Mas é um jogo, o mundo inteiro vai estar a ver e nós queremos ganhar", sentenciou.
