Hong Kong. Jovens ativistas anti-Pequim eleitos para o conselho legislativo

Orgão legislativo passará a contar com membros defensores de maior autonomia política, num inesperado golpe ao status quo do exercício de poder do Partido Comunista na ex-colónia britânica.

Em 2014, milhares de jovens encheram as ruas de Hong Kong em protesto contra o controlo asfixiante de Pequim. Ontem, quatro das principais caras que lideraram a “Revolução dos guarda-chuvas” foram eleitas para o conselho legislativo desta cidade, vizinha de Macau.

Nathan Law, Yau Wai-ching, Sixtus Leung e Chen Chung-tai. São estes alguns dos ativistas que terão a difícil missão de representar a nova geração de Hong Kong que pugna por mais autonomia, numa câmara com poderes legislativos e orçamentais, o LegCo, que conta com outros 66 membros. 

E se, à primeira vista, quatro em 70 poderão não ser suficientes para beliscar o poder de Pequim – tendo em conta que a grande maioria dos restantes eleitos são próximos do Partido Comunista Chinês – a verdade é que é a primeira vez, desde 1997, que personalidades tão próximas de uma abordagem pró-independentista são chamadas pelo eleitorado a exercer cargos políticos em Hong Kong.

“Foi totalmente inesperado, ninguém esperava que isto fosse acontecer”, confessou emocionado Nathan Law, citado pelo jornal britânico “The Guardian”, a figura mais emblemática dos protestos de outubro de 2014, pouco tempo depois de saber que tinha sido eleito, por quatro anos, em representação do partido Demosisto. “É um milagre”, acrescentou. 

Não deixa de surpreender o “choque”de Law, descreve a BBC. A afluência às urnas atingiu um recorde histórico de 58% e o líder estudantil de 23 anos conseguiu convencer cerca de 50 mil pessoas a votar nele. Mais composto, haveria de dizer que aquilo que aí vem é “um novo caminho e um novo futuro” para o movimento democrático em Hong Kong.

Face aos resultados, que ainda terão de ser oficializados, é inegável o papel impulsionador da “Revolução dos guarda-chuvas” e dos jovens, a maioria estudantes, que há dois anos pediram mais autonomia política para Hong Kong e acusaram o governo de Pequim de violação do acordo “Uma China, dois sistemas”, aquele que atribui àquele território – e também a Macau – um estatuto administrativo especial.