Um elogio para Platini?

Tecnologia, arbitragem, alargamento de competições, a escolhe pode cair onde se quiser, quando o assunto é as críticas que são atiradas contra Michel Platini. Presidente da UEFA desde 2007, o francês não reúne opiniões consensuais entre as palavras dos milhões de adeptos de futebol. Neste Europeu, mais críticas têm chegado, mas a surpresa está na…

com ironia atrelada ou não, cesare prandelli acabou ontem
por elogiar o gaulês. na base do seu elogio esteve o primeiro golo que ontem a
itália marcou frente aos irlandeses, no encontro que decidiu o apuramento da squadra azzura para os quartos de final
do europeu.

a bola vinda de um canto marcado do lado direito dirigia-se
para a zona próxima do primeiro poste da baliza. ali apareceu a correr antonio
cassano, que saltou e fez a sua cabeça embater na bola, que por sua vez ainda
teimou em ir contra a barra da baliza. esse destino fez com que fosse
projectava para baixo, e embatesse muito próxima da linha de baliza no relvado.

durante um par de segundos, os festejos dos jogadores
italianos ainda foram contidos, quando viram os árbitros da partida a cruzarem
olhares duvidosos. bastou um deles, que estava ao lado da baliza, erguer um
braço e confirmar a validação do golo. e a presença deste árbitro é uma
novidade neste europeu, que a uefa inseriu após já ter testado a inclusão de
mais dois árbitros por jogo em provas europeias, para serem colocados junto à
linha de fundo, perto das duas balizas.

e na segunda-feira assistiu-se a este exemplo, quiçá dos
poucos em que esse par de olhos adicional provou ser útil. esta utilidade foi
ainda maior para a itália, e cesare prandelli reconheceu isso mesmo, e quis
agradecer a platini. «tenho que o elogiar, porque sem o quinto homem [árbitro]
se calhar o golo não teria sido validado», explicou, citado pelo daily
telegraph.

de facto, as repetições televisivas mostraram que a bola
ultrapassou por completo a linha de baliza e, se não tivesse sido atribuído o
golo, talvez este texto estivesse agora a alongar-se sobre as críticas
italianas à arbitragem. mas não. a decisão de ontem foi a correcta, mas nem as
palavras de prandelli deverão afastar de michel platini a nuvem que já o persegue
neste europeu, e que já começa a soltar os primeiros salpicos de críticas.

tudo porque o presidente da uefa revelou o seu prognóstico
para a final. mais do que um prognóstico, porém, as suas palavras foram vistas
como uma preferência. «espanha-alemanha», soltou. o seu problema foi-se depois
construindo nos jogos seguintes.

na última jornada da fase de grupos, tanto no encontros dos
germânicos como nos espanhóis, os seus adversários reclamaram, e com razão, que
ficou uma grande penalidade por assinalar em seu favor. as câmaras televisivas e
as suas repetições mostram isso mesmo. além deste aspecto, o facto de ter sido
um árbitro alemão a apitar a partida de espanha e o espanhol a dirigir o jogo
onde esteve a alemanha será outro ponto por onde os críticos poderão pegar.

nesta onda de coincidências, destaque igualmente para outra
frase proferida por platini. questionado sobre os golos neste europeu – todos os
jogos, até agora, os têm tido -, o gaulês justificou-os ao dizer que «cinco
árbitros facilitam as coisas», explicando a sua visão com «o medo de serem
apanhados» que agora os defesas sentirão, o que os levará a cometer menos
faltas dentro da grande área, face à proximidade de mais um olhar atento, e
ajuizador, ali bem perto de si.

mas as grandes penalidades reclamadas por croatas, contra a
espanha, e por dinamarqueses, diante da alemanha, referem-se a alegadas faltas
ambas cometidas dentro da área, após puxões de camisolas visíveis.

em ambos os casos, o par de olhos extra não viu o que as
câmaras de televisão mostraram. aqui não houve mais golos, houve antes menos
duas oportunidades claras de os marcar, e logo contra as equipas que platini
prevê que disputem a final do europeu.

diogo.pombo@sol.pt