Atleta que se quer suicidar após Paralímpicos conquista medalha de prata

A atleta sofre há vários anos de uma doença degenerativa incurável

Marieke Vervoort, a atleta belga que quer morrer depois dos Jogos Paralímpicos, conquistou este sábado a medalha de prata nos 400 metros da classe T51-52, prova para atletas com limitações nos membros inferiores e superiores.

O ouro foi para a canadiana Michelle Stilweel e o bronze para a norte-americana Kerry Morgan.

Campeã olímpica dos 100 metros livres em corridas de cadeiras de rodas nos Paralímpicos de 2012, em Londres, Marieke já tomou a decisão. Está tomada e é irreversível: os Jogos do Rio serão os últimos da sua vida. Depois, resta-lhe escolher o dia em que dirá o adeus definitivo ao mundo e partirá em paz.

A atleta sofre há vários anos de uma doença degenerativa incurável, diagnosticada em 2008, mas que já a atormentava desde longe. A uma inflamação num pé, aos 14 anos, seguiram-se problemas graves nos joelhos. Aos 20 anos já dependia de uma cadeira de rodas. Hoje tem a metade inferior do corpo paralisada, a visão reduzida a 20 por cento e dores insuportáveis, que a fazem passar noites em branco e lhe tiram toda a alegria de viver. Marieke Vervoort tem na sua posse o documento ‘libertador’, assinado por si, que autoriza um médico a aplicar-lhe uma injeção letal quando decidir acabar com a sua vida.

A Bélgica, refira-se, é o país no mundo com as leis mais permissivas sobre eutanásia. Esta opção – morte sem dor nem sofrimento – é legal desde 2002 para pessoas que sofram de doenças físicas ou psíquicas incuráveis. Ali, por dia, há cinco pessoas a decidir morrer e mesmo os menores de idade podem fazê-lo desde que com o consentimento dos pais e com um relatório psiquiátrico a avalizar a decisão.

Não é, ainda assim, um processo rápido. Até poder colocar a sua assinatura no documento, Marieke teve de convencer um psiquiatra de que a sua decisão não se devia a um estado de espírito momentâneo e ainda provar a três médicos diferentes que as dores que a atormentam são tão intensas que é insuportável viver com elas, além de ser impossível vir algum dia a melhorar.

“Quando quiser, posso pegar nos meus documentos e dizer: ‘Chega, quero morrer!’ Isso tranquiliza-me quando tenho muitas dores. Não quero viver como um vegetal.”, afirmou.

“O Rio de Janeiro é o meu último desejo. Espero acabar a minha carreira com um lugar no pódio.”, disse antes do início da competição. Merieke ainda vai defender o título dos 100 metros da classe T51-52.