Filipinas. Duterte encomendou mortes políticas, acusa ex-empregado

Um antigo membro do “esquadrão da morte de Davao” acusou o atual presidente filipino de ter ordenado inúmeros assassinatos, contra rivais políticos e civis, no tempo em que detinha o cargo de alcaide daquela cidade

Chama-se Edgar Matobato, tem 57 anos e garantiu, esta quinta-feira, numa audiência no Senado das Filipinas, que integrava um grupo de milícias, liderado pelo ex-alcaide de Davao e agora presidente do país, Rodrigo Duterte. Fazia parte das suas tarefas eliminar todos os alvos identificados pelo alcaide. Segundo o próprio, perto de 1000 pessoas terão sido assassinadas pelo grupo, durante as duas décadas de liderança de Duterte.

“O nosso trabalho era matar criminosos, como traficantes de droga, violadores e ladrões”, explicou Matobato, citado pelo “The New York Times”. Mas não só. No seu testemunho referiu, também, que era costume levar a cabo assassinatos contra “opositores de Duterte”, como, por exemplo, membros da equipa de Prospero Morales, um antigo rival político do alcaide. 

A forma de atuar do “esquadrão da morte de Davao” – que operou entre 1988 e 2013 naquela cidade do sul das Filipinas –tem, igualmente, muito que se lhe diga. Segundo a descrição de Matobato, os alvos do alcaide “morriam como galinhas” e a maioria dos cadáveres das vítimas eram lançados ao mar, para serem comidos pelos peixes. Uma delas chegou a ser dada como refeição a um crocodilo, contou o antigo empregado.

Num outro relato, Matobato contou que Duterte ordenou aos seus capangas que colocassem uma bomba numa mesquita de Davao, como retaliação a um ataque contra uma igreja católica, uns dias antes.

Matobato entrou num programa governamental de proteção de testemunhas, mas a subida de Duterte ao cargo político mais alto das Filipinas, em junho deste ano, fê-lo desistir do programa, com medo de ser morto. Através do seu testemunho no Senado, confessou, quer que as pessoas saibam o que se passou “para que as mortes parem”.

Recorde-se que já morreram mais de 2 mil pessoas, nos quase três meses de governo de Rodrigo Duterte, vítimas da sua promessa em acabar com os traficantes de droga no país.

O inquérito foi liderado pela senadora Leila de Lima, uma figura crítica das políticas seguidas pelo novo presidente. Tanto é que o próprio Duterte já a acusou de estar envolvida com cartéis de droga filipinos que, alega, patrocinam iniciativas como as desta quinta-feira, no Senado.

O líder das Filipinas costuma ser notícia pelas piores razões. Para além das acusações constantes sobre a forma como governa, à margem da lei, também é conhecido pelos insultos e ameaças contra figuras públicas. O Papa Francisco, John Kerry, Donald Trump e, mais recentemente, Barack Obama, foram algumas das vítimas da ira verbal de Rodrigo Duterte.