Empresas. Insolvências disparam

Para além do aumento de 9% das insolvências registadas nos primeiros oito meses do ano, a criação de empresas abrandou 3,5% em comparação com o mesmo período do ano passado. No total deram entrada 25 457 novos registos, quase menos mil do que em 2015.

Desde o início do ano até agosto, 5002 empresas entraram em insolvência, o que representa um aumento de 9% face ao período homólogo (mais 415).

Os dados são do Observatório de Negócios da Ignios, publicados pelo “Diário de Notícias”, e perfazem uma média de 20 insolvências por dia nos primeiros oito meses do ano. A criação de empresas abrandou também 3,5%, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Registaram-se menos 340 credores a dar entrada com pedidos de insolvência de devedores e foram menos 63 que recorreram ao processo especial de revitalização através do Código de Insolvências. No entanto, 78 planos de insolvência foram aprovados pelos credores e os tribunais receberam 2450 processos. Tudo isto, juntamente com as organizações declaradas falidas, chega-se ao total de 5002.

A nível geográfico, o maior aumento de insolvências foi registado no Porto, com mais 170 empresas em dificuldades (1091 empresas no total), seguindo-se Lisboa, com mais 141 (1250 empresas no total) e, a fechar o pódio, Setúbal, com mais 59 casos (333 no total). Braga foi onde se verificou a maior diminuição, com menos 53 empresas em dificuldades (503 no total). Faro (menos 36), Leiria (menos 14), Viana do Castelo (menos 12) e Aveiro (menos quatro) foram os outros distritos onde o número de insolvências diminuiu em comparação com o ano passado. A Horta, nos Açores, foi onde se verificaram menos insolvências, seis no total, mas mais uma do que no ano passado.

António Monteiro, CEO da Ignios, explicou, citado pelo “Diário de Notícias”, que “as exportações, principal motor de crescimento económico nos últimos anos, revelam alguma desaceleração nos últimos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística”. Na opinião de Monteiro, este facto pode vir a causar “consequências para as empresas dos distritos tradicionalmente mais exportadores que, até à data, têm evidenciado números mais favoráveis do que as zonas mais dependentes da procura interna”.

Esta pode ser também uma explicação para os dados verificados por setor de atividade: o comércio, a retalho e por grosso, e a restauração foram particularmente afetados pelas falências. No comércio foram registadas, no total, mais 150 falências do que em 2015 (1401 no total), com 389 restaurantes em dificuldades, mais 40 do que no mesmo período do ano passado.

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços, também citado pelo “Diário de Notícias”, afirma, no entanto, que o pior período do setor, nos anos de 2012, 2013 e 2014, já passou: “O negócio está estabilizado e até há alguns segmentos, como os das novas tecnologias e alimentar, que têm tido crescimento. As empresas estão é com baixos níveis de capitalização e mantém-se a dificuldade para aceder à banca.” Nos três anos em que o setor passou pela sua maior crise chegou a registar-se o encerramento de 100 lojas por dia.

Também a redução do IVA para a restauração, dos 23% para os 13%, decidida pelo atual governo, é apontada por Vieira Lopes como uma via para a melhoria da situação do setor em Portugal: “A restauração, com a baixa do IVA, vai recuperar alguma capitalização das suas empresas, que foram obrigadas a assumir o aumento dos preços quando o governo subiu o IVA para 23%. Esta descida vai ajudar a dar mais saúde a um conjunto de empresas que passará, pelo menos, a trabalhar com fundos de maneio maiores.”

Se as insolvências aumentaram, a verdade é que a criação de empresas não compensou a evolução negativa. Aliás, de janeiro a agosto de 2016 deram entrada 25 457 registos de novas empresas, o que representa um decréscimo de 3,5% relativamente ao mesmo período de 2015 – em termos numéricos, foram criadas quase menos mil novas organizações.

A exceção é novamente a restauração, mas também o alojamento, os transportes e a construção. Em relação aos dois primeiros foram criadas mais cem entidades em comparação com o ano passado. No total deram entrada 3146 novas empresas. Estes números acompanham o crescimento e a evolução do turismo em Portugal e, particularmente, em Lisboa. Outra das áreas que cresceram foram os transportes: foram criadas 664 novas entidades, mais 92 do que em 2015. Já a construção evoluiu positivamente, com a criação de 2038 novas construtoras, mais 18 do que no ano passado.