Refugiados. 300 mil cruzaram o Mediterrâneo rumo à Europa, em 2016

A contagem é inferior ao verificado no mesmo período do ano passado, mas o número de mortos e desaparecidos deverá ser ultrapassado

William Spindler, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), revelou na terça-feira, numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça, que o número de refugiados e requerentes de asilo que atravessaram os Mar Mediterrâneo, a caminho da Europa, atingiu, neste mês de setembro, as 300 mil pessoas.

Os números impressionam, mas ficam, ainda assim, aquém dos cerca de 520 mil refugiados que, no mesmo período de nove meses de 2015, fizeram o mesmo trajeto. No entanto, relembra o ACNUR, a contabilização até agora feita, para o ano de 2016, ultrapassa os números totais de 2014, onde se contabilizaram perto de 216 mil entradas no continente europeu.

Segundo os dados apresentados por Spindler, mais tarde publicados no site oficial do ACNUR, os dois principais países de chegada de refugiados foram, naturalmente, a Itália e a Grécia. Enquanto no primeiro os números de 2015 e 2016 mantêm-se semelhantes – 130 mil chegadas neste ano, contra 132 mil no ano passado –, a realidade grega é distinta. Isto porque o número de requerentes de asilo diminuiu, consideravelmente. Mais de 165 mil pessoas chegaram à Grécia nos primeiros nove meses de 2016, ao passo que, para o mesmo período do ano passado, registaram-se cerca de 385 mil chegadas.

Não obstante a diminuição, o número de refugiados que perderam a vida no Mediterrâneo caminha a passos largos para ultrapassar a mesma contabilização verificada em 2015. O ACNUR mostra que, entre janeiro e setembro de 2016, 3211 pessoas morreram, ou foram dadas como desaparecidas. Tendo em conta que o número de requerentes de asilo que cabem nesta categoria foi de 3771, no total dos doze meses de 2015, este ano pode mesmo vir a ser o mais mortífero, caso o fluxo se mantenha.

O ACNUR revelou, também, as principais nacionalidades dos refugiados. A Itália chegaram, maioritariamente, cidadãos da Nigéria, Eritreia, Gâmbia, Guiné, Sudão e Costa do Marfim, ao passo que na Grécia entraram pessoas fugidas da Síria, Afeganistão, Iraque, Paquistão e Irão.

Na publicação foram ainda deixadas várias críticas à forma de atuação da União Europeia. Segundo o ACNUR, o plano acordado com aquela organização – para a recolocação de 160 mil requerentes de asilo noutros Estados-membros – ainda tem de ser “completamente implementado”, uma vez que menos de 5 mil pessoas, que chegaram à Grécia e à Itália, foram acolhidas, apenas “3% do objetivo inicial”.

“Esta situação realça a urgência para que os Estados melhorem as vias para a admissão de refugiados”, avisa Spindler, destacando que estas melhorias têm uma necessidade “vital”, face à “situação humanitária na Grécia e ao crescente número de pessoas (…) em Itália”.

Incêndio em Lesbos 

No mesmo dia em que o ACNUR alertou para a situação humanitária na Grécia, cerca de 4 mil residentes no campo de Moria, situado na ilha de Lesbos, tiveram de ser evacuados, devido a um incêndio. Segundo a imprensa local, os rumores de uma possível deportação de refugiados para a Turquia, poderá ter estado na origem do incêndio, embora a polícia suspeite que tudo terá começado numa disputa relacionada com comida.

Os centros de migrantes des Lesbos têm condições para acolher 3600 pessoas, mas calcula-se que se encontrem na ilha mais de 5 mil refugiados.