Clientes preferem promoções

A guerra dos hipermercados pelos preços baixos já levou a ASAE a aplicar coimas às grandes superfícies por estarem a vender produtos abaixo do preço de custo.

Os consumidores optam cada vez mais pelos produtos em promoção sempre que vão ao supermercado. Essa tendência é visível pelos últimos dados divulgados pela Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), ao revelar que as vendas promocionais nos hipermercados passaram de 39,7% no primeiro semestre de 2015 para 44,8% nos primeiros seis meses deste ano.

E de acordo com a presidente da entidade, Ana Isabel Trigo de Morais, a tendência é para continuarem a crescer. «A atividade promocional deve continuar a crescer», afirmou a responsável durante a apresentação do Barómetro de Vendas APED relativo ao primeiro semestre de 2016.

A explicação para esta tendência é simples: «O consumidor tornou-se um fã» das promoções, muito assentes nos folhetos e em produtos que fazem parte do chamado cabaz básico alimentar, de que os hipermercados usam e abusam para atrair os consumidores.

Além de serem uma «evidência da dinâmica concorrencial», as promoções mostram que o fator preço continua a ser decisivo para quem compra. E os números falam por si: nos primeiros seis meses do ano, as marcas dos fabricantes ganharam quota de mercado, passando de 65,3% para 66,7% das vendas, enquanto o peso das marcas da distribuição recuou 1,4 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado.

A verdade é que esta ‘guerra’ pelos preços baixos está longe de ser pacífica e já levou a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) a aplicar coimas aos hipermercados. De acordo com os últimos dados divulgados pela entidade, foram aplicadas coimas de 917.750 euros a operadores de comércio por vendas abaixo do preço de custo.

Este número remonta ao período entre fevereiro de 2014 e junho de 2016. O intervalo do prejuízo a que as vendas são feitas tem variado entre os 0,5 e os 25%. A ASAE abriu 42 processos, aguardando pelo desfecho de vários recursos judiciais. Um deles respeita à coima de 500 mil euros ao Pingo Doce, pela campanha de promoção realizada a 1 de maio de 2014, que o retalhista impugnou.

Recorde-se que, em 2014, entrou em vigor o novo regime das práticas restritivas do comércio, aumentando o valor das coimas máximas para os 2,5 milhões de euros.

Vendas sobem

Os dados do setor revelam ainda que as vendas do retalho aumentaram 1,8% no primeiro semestre do ano para 8,6 mil milhões de euros, impulsionadas pelo setor alimentar. Este registou um acréscimo de 3,5% no volume de vendas para cinco mil milhões de euros, com destaque para o aumento de 9,8% da categoria Perecíveis.

Esta subida revela, de acordo com a presidente da APED, que há uma maior preocupação dos consumidores com a saúde e com o bem-estar. «O aumento muito expressivo dos perecíveis, como as frutas, legumes e vegetais, indica que há alterações de consumo e maiores preocupações com a saúde e o bem-estar», disse. 

No entanto, nesta categoria, os laticínios foram o que registaram a maior queda, com o consumo a cair 2,4% – uma situação que, de acordo com Ana Isabel Trigo de Morais, só poderá ser ultrapassada se existirem campanhas fortes para impulsionar o aumento do consumo de leite e desmistificar”mitos sobre os alegados impactos deste alimento na saúde humana e descarta qualquer responsabilidade da distribuição nos problemas do setor. E dá como exemplo, a queda das importações de leite que têm vindo a cair de 20% em 2010 para 14% em 2015.

Mas apesar desta quebra no consumo de leite, a APED diz que tem aumentado o consumo de produtos transformados como a manteiga e o queijo, incentivando a produção e a indústria a acompanharem «as alterações de padrão de preferências do consumidor», disponibilizando outras categorias de produtos.

Já o setor não alimentar apresentou um decréscimo de 0,7%, tendo sido influenciado pelo consumo de combustíveis, cujos preços são inferiores aos do primeiro semestre de 2015.

O mercado de linha branca (equipamentos para o lar como máquinas de lavar roupa e loiça e frigoríficos) foi o que mais cresceu (11%), aumentando a faturação para 202 milhões de euros entre janeiro e junho de 2016 face ao semestre homólogo, em contraste com a fotografia, que perdeu 13,8% para 25 milhões de euros.

Por outro lado, a quota de mercado dos hipermercados está a cair (menos 0,3 pontos percentuais), enquanto a dos supermercados subiu 0,8 pontos, à semelhança das discounters (lojas mais baratas), que aumentaram 0,6 pontos percentuais.

OE influencia consumo

Apesar deste crescimento, Ana Isabel Trigo de Morais mostra-se cautelosa em relação às perspetivas até ao final do ano e culpa a instabilidade em relação aos comportamentos de consumo. «Os consumidores estão cada vez mais voláteis e os indicadores de confiança na evolução da economia e do país têm tido grandes subidas e grandes descidas, e há uma grande instabilidade do comportamento do consumidor, que é capaz de travar de repente e influencia todo o comportamento do mercado», revela a responsável.

Ainda assim, admite que o próximo Orçamento será decisivo para ditar tendências de consumo. «Estamos muito atentos ao que se vai discutir. Já há uma elevada carga fiscal sobre as famílias e onerar ainda mais terá imediatamente impacto sobre o consumo», alerta.